Estive no Chile por 14 dias, viajei mais de 2.000 km e provei 298 vinhos. Minha última visita ao país tinha sido em 2011, e pensava saber o que se passava lá. Os vinhos mais importados no Brasil são chilenos, por isso tinha a empáfia de me julgar atualizado sem sair de casa. Que erro brutal.
O primeiro choque positivo foi ver como a uva carménère, que nunca foi minha favorita, virou uma beleza. Não era implicância, a casta era cheia de piracina (aquele cheiro e gosto de pimentões verdes).Os produtores chilenos insistiram na sua uva, e agora ela oferece vinhos refinados e deliciosos a todos os preços.
O segundo foi ver como eles aprenderam a lidar com seu clima privilegiado. O Chile é um país comprido, como se vê no mapa, vai do calor intenso do deserto do Atacama às geleiras da Terra do Fogo.
O Pacífico de águas geladas oferece um vento frio excelente para as uvas, os Andes formam um paredão de defesa ao leste e a cordilheira da costa a oeste.
Toda essa geografia, com seus vales, é espetacular para os vinhedos e permite que se plante de tudo, de temperamentais pinots noirs e rieslings a raçudos cabernets sauvignons e uvas mediterrâneas, como carignan e marsanne.
A syrah foi a uva que mais me espantou. Os syrahs chilenos vêm aí com toda sua qualidade. Não são pesadões nem alcoólicos, mas delicados e com traços tão locais como nunca vi, exceto talvez no vale do Rhône, na França.
Outra coisa a destacar: os produtores chilenos entenderam o uso de madeira nos seus vinhos. Adeus sucos de carvalho, bombas de fruta madura enjoativas.
Por essa diversidade de terrenos e climas, há o mais forte movimento de vinhos orgânicos e naturais no continente. E há uma coisa que me encantou, pequenos produtores se reúnem em associações para divulgar seus vinhos juntos, como a MOVI.
Mas os grandes, como Concha y Toro, justamente pelo tamanho, empregam dezenas de enólogos e dão a eles liberdade criativa. Alguns dos vinhos mais saborosos provei das mãos de jovens enólogos que podem inventar dentro de uma grande empresa.
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