Eis uma proposta que me ofenderia: o peixe gorduroso e a uva emblem�tica do Chile, tinta, potente. Nunca sugeriria essa dupla.

Mas fui me encontrar com os �timos chef Kurt Schmidt e a sommeli�re Mariana Martinez, ambos chilenos, que passaram por S�o Paulo para uma divulga��o da riqueza de produtos do pa�s. E, num jogo muito pedag�gico, me propuseram essa combina��o, que eu nem deveria chamar de proposta, mas de desafio. E deu certo! Pensei nos Riojas Gran Reserva com peixes de rio brasileiros, outra coisa improv�vel e que d� samba.

O mais importante no mundo do vinho, mais que a ta�a, a safra, o pre�o ou os grandes r�tulos, � a capacidade de provar todas as possibilidades, rejeitar as terr�veis e aceitar as novas (e constatar as �bvias).

Esta n�o � uma coluna convencional, foi mais uma entrevista com dois personagens fascinantes. Passei uma tarde conversando com Mariana e com o animado Kurt, dessas pessoas que fazem renascer o gosto de qualquer um pela gastronomia.

O chef est� inventando uma comida chilena. Tudo � f�cil em pa�ses como Fran�a e It�lia, em que as pessoas praticamente nascem com um queijo numa m�o e uma ta�a de vinho na outra. Em lugares como Brasil, Argentina e Chile, gastronomia � pedagogia, temos que for�ar nossas barras, ter coragem de colocar na boca algo diferente do trivial.

Ele, que passou pelo Noma, de Copenhague, outro lugar de inven��o, disse uma coisa que me espantou: os chilenos rejeitam os mariscos e comem pouco peixe, mesmo naquele pa�s com uma costa maravilhosa, com todos os pescados do Pac�fico, preferindo as carnes de porco e de boi e os frangos. Lembrei-me de minha inf�ncia mineira, onde peixe s� aparecia em desenhos animados na TV ou fritos at� virarem um peda�o de couro, nas f�rias na praia.

O Chile � um pa�s bem estranho, e isso � um elogio. Eu tinha um livro de um tal Benjam�n Subercaseaux que se chamava "Chile, ou uma Geografia Louca", gostaria de reencontr�-lo. Era uma explica��o bem pessoal do autor para o pa�s que, num espa�o t�o esticado —4.329 quil�metros de norte a sul e meros 177 quil�metros na largura m�xima, formando aquele mapa curioso, encaixado entre as �guas geladas do Pac�fico e os Andes— tem uma variedade de climas determinante. O deserto de Atacama e a Patag�nia chilena como extremos. E, onde se diz "variedade de climas", l�-se: enormidade de produtos e de vinhos diferentes.

O mapa dos seus vinhos est� sendo redesenhado, com novas regi�es, mas nenhum pa�s da Am�rica do Sul oferece tamanha diversidade. Por isso h� de densos Syrahs a sutis Rieslings, mais qualquer outra casta que se queira. O vinho chileno, querido pelos brasileiros, continua o mais importado por aqui, e com raz�o.

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O restaurante 99
N�o, a coluna n�o esteve no Chile, mas deu vontade de conhecer todos os cogumelos, peixes e prepara��es que o chef Kurt Schmidt est� explorando na casa. Se fosse uma coluna internacional, certamente seria sobre o lugar. Schmidt conta seu trabalho com tanta verve que o desejo de reservar uma mesa � forte. O chef trabalha com produtos que ningu�m d� aten��o e quer colocar o Chile no mapa dos comil�es. Pr�xima ida a
Santiago rumarei direto para l�.

Ouse uma uva
O Chile teve uma paix�o recente de en�logos pela menosprezada casta Pa�s. A uva, que se acreditava aut�ctone (n�o �, vem da Espanha e se espalhou pela Am�rica com nomes de Missi�n na Calif�rnia, Criolla Chica na Argentina e Pa�s no Chile) sempre foi vinificada e consumida, no estilo "garraf�o", mas ganhou novos usos nas m�os de atrevidos como o franc�s Louis-Antoine Luyt (este � um doid�o que encontro nos lugares mais inesperados, e bebi alguns de seus vinhos mexicanos recentemente). A minha vers�o de Pa�s predileta, at� agora, acess�vel, engarrafada em vers�o de um litro, para beber frio e por prazer, sem complica��es, � o Cacique Maravilla Pipe�o.

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	Divulga��o

Vinhos da semana
(1) Santa Digna Estelado Ros�, Devinum (R$ 122).
(2) Lapostolle Grand Selection Carm�n�re, Mistral (R$ 101,57).
(3) Morand� Late Harvest, Grand Cru (R$ 89).
(4) Cacique Maravilla Pipe�o, Costi Bebidas (R$ 85,40)

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