Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
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Espetáculo de Trump atraiu multidão, mas de jornalistas e policiais

Imprensa americana voltou a exibir sintomas da síndrome de Estocolmo que facilitou a eleição do republicano em 2016

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A certa altura, um veterano editor presente calculou que havia 30 jornalistas para cada manifestante. O esperado circo em torno do tribunal, no sul de Manhattan, foi armado, mas principalmente pela mídia americana e internacional.

Sabemos que Donald Trump recusou a oferta do promotor de Manhattan que o indiciou para se apresentar à Justiça por Zoom. Ele insistia em posar para o infame "mugshot", a tradicional foto no momento da prisão para motivar as legiões de otários que doam para sua "campanha" (leia-se gastos com advogados e despesas em suas propriedades).

O ex-presidente dos EUA Dornald Trump, rodeado por policiais, em tribunal de Manhattan
O ex-presidente dos EUA Dornald Trump, rodeado por policiais, em tribunal de Manhattan - Ed Jones - 4.abr.23/AFP

Quando perceberam que ele não seria algemado nem fotografado, seus asseclas sapecaram uma falsa imagem de mugshot numa camiseta, vendida na internet por US$ 47. A campanha do ex-presidente arrecadou mais de US$ 10 milhões nos primeiros cinco dias após o anúncio do indiciamento.

A mídia americana voltou a exibir sintomas da síndrome de Estocolmo que facilitou a eleição de Trump em 2016. A cobertura na última semana, especialmente nas redes de cabo, foi pornográfica e, especialmente na terça-feira (4), ofuscou o fato legal mais relevante para o país: a eleição para uma vaga na Suprema Corte do estado de Wisconsin que pode afetar a disputa presidencial no ano que vem. Wisconsin é um estado-pêndulo que resistiu às investidas dos republicanos para roubar a eleição de Joe Biden, em 2020. Felizmente, o candidato trumpista Dan Kelly foi derrotado.

Nova York é uma cidade de maioria democrata cercada de bolsões republicanos. Trump atrasou a prisão que o promotor tentou marcar para sexta passada para dar tempo de convocar seus seguidores nesta área, numa tentativa de intimidar a Justiça da cidade onde mais praticou crimes e fez fortuna.

Talvez seu rebanho não seja tão otário assim. Afinal, mais de mil pessoas já foram indiciadas pelo 6 de Janeiro, e a polícia de Nova York tem um poderio de dar inveja a exércitos.

Assim, a maior parte da ação, no dia em que, pela primeira vez, um ocupante da Casa Branca se tornou réu, ficou por conta de meganhas uniformizados e repórteres.

Donald Trump foi uma tragédia para o país e uma galinha dos ovos de ouro para um punhado de empresas de mídia. Ele não estava exagerando quando previu que jornais e redes de TV iam sofrer perdas quando ele deixasse Washington. A audiência de canais a cabo e o tráfego em sites de notícias começaram a despencar no mês seguinte à convulsão da invasão do Capitólio.

O comportamento da chamada mídia mainstream nesta semana é um péssimo sinal para a democracia americana, a caminho de 2024. A CNN, propriedade da endividada Discovery, cobriu cada movimento do meliante alaranjado, da Flórida até Manhattan. E ainda exibiu ao vivo, no horário nobre, o lunático discurso que ele fez, na volta a Mar-a-Lago. Até o New York Times não escapou do ridículo, com manchetes sobre uma fictícia tensão na cidade que aguardava Trump.

Se uma nova tragédia se abater sobre os EUA e Donald Trump for reconduzido à Casa Branca, ele terá uma dívida de gratidão com a invertebrada indústria que conhece tão bem.

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