Movimentos pseudocientíficos seguem padrões. Desprezam estatísticas e evidências que contrariam suas crenças, traçam generalizações a partir de casos isolados e se apegam a teorias conspiratórias.
Esse comportamento não está restrito aos ativistas contrários a vacinas: também é comum em parte dos ambientalistas.
Semana passada, por exemplo, deputados aprovaram novas regras para a aprovação de agrotóxicos no Brasil. Para o Observatório do Clima, a lei surgiu porque "a bancada do câncer quer colocar mais veneno no seu prato".
Ao fazer uma afirmação dessas, a organização reproduz uma teoria conspiratória muito próxima de "a bancada da vacina quer implantar chips no seu cérebro".
Maior diversidade de substâncias não resulta em maior quantidade. Pelo contrário, produtos novos costumam aposentar os antigos, que em geral são menos precisos e mais prejudiciais.
Quem se preocupa com a saúde e o meio ambiente deveria apoiar, em vez de se opor, a inovação e a ciência nessa área.
Quando se diz que comer alimentos da agricultura tradicional é "botar veneno no prato", joga-se no lixo anos de trabalho de pesquisadores que estudaram os riscos, a toxicidade e a ingestão diária aceitável das substâncias.
E comete uma generalização similar a "não tomo remédio da farmácia porque eles causam câncer". Ora, o que faz o veneno é a dose. Por isso mesmo confiamos em cientistas para saber a dosagem recomendada de remédios tanto para humanos quanto para plantas.
A postura anticientífica é ainda mais evidente com o glifosato, o herbicida mais usado no mundo.
Como a bióloga Natalia Pasternak já explicou diversas vezes, o glifosato bloqueia uma via enzimática que existe em plantas, não em animais. Por isso a toxicidade para humanos é baixíssima, menor que a de sal, café ou chocolate.
A OMS rejeitou em 2016 a ideia de que essa substância causaria câncer ou afetaria o sistema endócrino de consumidores ou trabalhadores rurais. Dezenas de revisões recentes vão na mesma linha.
Apesar da disso, o Greenpeace continua reproduzindo a fake news de que o glifosato é cancerígeno e está relacionado a abortos espontâneos ou más-formações fetais.
Outro exemplo é a energia nuclear. No começo de fevereiro, uma comissão de especialistas da União Europeia recomendou classificá-la como verde, a fim de facilitar investimentos na transição energética.
Para quem está preocupado com a mudança climática, foi uma excelente notícia. Usinas nucleares emitem 3 toneladas de carbono por gigawatt-hora, menos que energia solar (5 toneladas), eólica (4) e que as hidrelétricas (34), segundo o Our World in Data.
Mas a WWF, o Greenpeace e a ativista Greta Thunberg seguem aterrorizados com o acidente de Chernobyl. Pressionam o Parlamento Europeu para votar contra o parecer.
É uma postura muito parecida com a de quem prefere viajar de carro porque viu na TV notícias de acidentes de avião.
Ao contrário da crença popular, as estatísticas mostram que a energia nuclear é uma das mais seguras que existem. Causa 0,08 morte por terawatt-hora gerado, contra 2,82 do gás e 18 das termelétricas a óleo diesel.
Os climatologistas James Hansen e Pushker Kharecha concluíram que a difusão da energia nuclear entre 1971 e 2009 evitou 1,84 milhão de mortes ao substituir fontes mais prejudiciais.
Se ambientalistas tão prontamente clamam para que se "ouça a ciência" quando o tema é mudança climática, eles próprios deveriam ouvir a ciência quando se trata de defensivos agrícolas e energia nuclear.
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