Na semana passada, repercutiu nas redes sociais um estudo sobre o poder de engajamento de influenciadores evangélicos.
Pesquisadores da UFF e da UFRJ coletaram dados de 191 perfis durante três meses. Dos dez nomes que mobilizaram mais participação, oito são evangélicos. De onde vem essa força?
Igrejas e líderes evangélicos são corretamente criticados por usar a religião para interferir na política. Mas é um equívoco retratar o evangélico como alguém facilmente manipulável, que obedece calado o comando de seus líderes. Membros trazem para suas comunidades visões de mundo diferentes e interesses às vezes conflitantes. Por isso é oportuno analisar igrejas como escolas de cidadania.
Diversos motivos explicam o crescimento rápido do número de evangélicos no Brasil. Além do aspecto religioso, igrejas servem como associações onde os moradores de um bairro podem atuar de forma organizada. É como se a igreja fosse um pequeno país. Fiéis se organizam a partir de grupos de trabalho chamados de "ministérios", especializados em áreas como juventude, música e gestão, entre outros.
Quem participa tem mais prestígio nas redes de ajuda mútua de sua comunidade. A maioria dos evangélicos brasileiros são pessoas de baixa renda e subalternas; nos locais de trabalho, usam uniformes, seus nomes são desconhecidos e eles apenas obedecem. A igreja subverte essa realidade. Lá o fiel tem um nome, veste suas melhores roupas e, ao participar, torna-se alguém reconhecido.
Em igrejas históricas, como a Metodista e a Luterana, há um ambiente de igualdade radical. Ao ser batizada, a pessoa se torna membro e tem os mesmos direitos para participar das tomadas de decisão. "É um processo dinâmico de aprendizado democrático", diz o pastor e sociólogo Valdinei Ferreira. "Ao acompanhar as assembleias, os membros aprendem regras parlamentares, como pedir a palavra, fazer uma intervenção, apresentar um projeto substitutivo e encaminhar propostas."
Mesmo em igrejas como a Universal, que possuem gestões mais centralizadas, há espaço para a atuação de pequenas lideranças. "Apesar da relação mais direta com as sedes nacionais, essas lideranças locais agem de acordo com as necessidades de cada contexto", explica a professora da UnB Jacqueline Teixeira.
Por que publicações de influenciadores como Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira geram mais engajamento que as de seus pares não evangélicos? Talvez a resposta tenha menos a ver com eles e mais com seus seguidores.
Vale examinar: em que medida o ambiente participativo das igrejas forja cidadãos mais atuantes, que abraçam o cristianismo como ideologia?
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