Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu Natal

Como reconhecer um lutador brasileiro no UFC?

Dica: não tem a ver com cor do uniforme nem com o estilo de luta

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A identidade dos lutadores brasileiros no universo do UFC vai além das características tradicionais como a tonalidade da pele, geralmente mais escura que a de seus oponentes, ou os uniformes em verde e amarelo. Mesmo o estilo dominante de jiu-jítsu, um legado da família Gracie, não é o que mais os distingue atualmente. O verdadeiro diferencial do lutador brasileiro hoje se manifesta na maneira como celebra sua vitória.

No ápice do triunfo, o lutador fixa o olhar na câmera, aponta para si mesmo e, com um gesto decisivo do dedo indicador, sinaliza um "não". Logo após, eleva o dedo ao céu, olhando para o alto. Este gesto, popularizado pelo lutador daguestanês Khabib Nurmagomedov, transcende a vitória pessoal e simboliza a entrega da glória a Deus.

O lutador brasileiro Charles 'Do Bronx' Oliveira, em gesto de fé
O lutador brasileiro Charles 'Do Bronx' Oliveira, em gesto de fé - Reprodução

Curiosamente, muitos desses lutadores podem não seguir rigorosamente uma religião, não serem batizados ou não se identificarem como evangélicos no sentido convencional. Porém, sob os holofotes globais, optam por se comunicar com seus fãs através da linguagem da fé, proferindo frases como "Obrigado, Deus" e "Obrigado, Jesus".

Este comportamento tem paralelos com a Roma dos primeiros séculos após Cristo, onde o cristianismo fazia parte do espetáculo público. Cenas históricas, como as retratadas em "Quo Vadis" (1951), mostram fiéis enfrentando a morte em arenas, sem resistir, como testemunho de sua fé e crença numa existência espiritual além da vida terrena. No entanto, no "circo" moderno do octógono, esses cristãos não são mais vítimas, mas gladiadores que participam ativamente no espetáculo da violência.

O lutador brasileiro Charles "Do Bronx" Oliveira, em imagem gerada pelo colunista JUliano Spyers com ajuda de inteligência artificial
O lutador brasileiro Charles "Do Bronx" Oliveira, em imagem gerada pelo colunista JUliano Spyers com ajuda de inteligência artificial - Imagem gerada a partir de DALL-E / ChatGPT

Alguns podem questionar a aparente contradição entre a religião e a violência, vendo-a como uma distorção dos ensinamentos pacifistas de Cristo. Contudo enxergo esses lutadores sob uma luz diferente.

Eles representam indivíduos que se recusam a se conformar com os estereótipos impostos aos pobres urbanos de baixa escolaridade. Em vez de se resignarem a serem vistos como vítimas ou ignorantes, eles transmitem, juntamente com sua fé, mensagens de resiliência e superação. Charles "do Bronx" Oliveira, ex-campeão dos leves, exemplifica essa mentalidade ao responder a um oponente: "Ninguém vai me bater mais forte do que a vida já me bateu".

Essa atitude não é uma busca egoísta por prosperidade, mas um esforço contínuo e disciplinado de autodesenvolvimento. Ao invocarem Deus e Jesus após suas vitórias, eles transmitem, através das câmeras de TV, uma mensagem de esperança e perseverança: é possível vencer, nunca pare de sonhar e desejar, e, acima de tudo, nunca abandone o ringue ou desista de lutar.

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