Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Mulheres de pastores adoecem por pressão desumana em casa

Imprensa trata como fofoca e ignora casos de abuso de pastores a esposas

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O apóstolo Rina, fundador da Bola de Neve Church, anunciou que tomará um ano sabático para se dedicar ao casamento.

No início do mês, o enteado e a sogra de Rina declararam pelas redes sociais que ele abusa da esposa, a pastora Denise.

Por causa disso e das colunas que escrevi sobre abusos que mulheres sofrem em algumas igrejas evangélicas, um interlocutor me escreveu: "Tenho um tema pra você, mas é bem complicado, vespeiro mesmo".

Ele pediu para não ser identificado, inclusive para relatar as dificuldades que viveu, entre quatro paredes, como filho e neto de pastores e alguém que seguiu a mesma carreira. A experiência dele pode ser comum, mas não deve ser generalizada para qualquer igreja ou pastor.

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Fiéis durante culto na igreja evangélica Bola de Neve, em Perdizes, São Paulo - Lalo de Almeida - 25.ou.17/Folhapress


"Nós vivemos de aparências. Até o dinheiro para meu sustento depende da imagem que as pessoas têm de mim como um homem de deus, ilibado do ponto de vista moral e do comportamento. Isso não precisa ser verdade, contanto que me vejam assim", disse.

Duas cartas no Novo Testamento indicam as qualificações que legitimam quem atua como pastor. Em Tito 1:6, por exemplo, está escrito que ele deve ser "irrepreensível, marido de (apenas) uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem de desobedientes".

Aquele que transgride algum desses pontos se desqualifica para a função pastoral. "A gente morre de medo de isso acontecer", conta meu interlocutor, "o que coloca um peso desumano sobre as nossas famílias, que devem estar sempre felizes".

Quem acaba sofrendo mais com essa situação é a mulher. "Pastores muitas vezes se revelam pessoas vaidosas por causa da exposição que recebem", explica ele. "Somos assediados por mulheres. Alguns vivem vidas duplas ou não têm amantes, mas flertam. E, para atender tantas pessoas nas atividades da igreja, o pastor frequentemente negligencia a própria família".

Se a companheira reclama —como aconteceu no caso envolvendo o fundador da Bola de Neve Church—, o pastor a acusa de estar comprometendo seu trabalho de evangelização e de prejudicar a família.

"Por causa disso, vejo tantas mulheres de pastores adoecidas psicológica e emocionalmente, por viverem relacionamentos abusivos", conclui o interlocutor.

A grande imprensa trata esse tema como anedota e como se fossem casos isolados —relevantes apenas para sites de fofocas como Observatório dos Famosos ou Fuxico Gospel. Mas uma busca nesses serviços pela palavra "esposa" traz muitos resultados.

Indício de que essa prática de assédio moral e emocional que vítima mulheres seja recorrente e perpetuada em algumas igrejas por seus líderes.

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