De que maneira recuperar o espaço já ocupado pelo futebol brasileiro no cenário mundial com tanta gente abaixo do medíocre a comandá-lo?
Das salas vigiadas pela arapongagem na CBF às dos presidentes dos grandes clubes do país o que se vê e se ouve é de fazer corar a menos santa das criaturas.
Discute-se a grama sintética dos campos de Athletico, Botafogo e Palmeiras, o que é legítimo pela vantagem que traz aos seus proprietários e pelos riscos que acarreta aos jogadores, mas não se exigem gramados naturais com qualidade para receber os jogos do Campeonato Brasileiro.
Resolve-se aumentar o número de jogadores estrangeiros que os clubes podem ter em seus elencos, seguindo a tendência estabelecida desde a globalização, mas não se cuida da educação dos aqui nascidos.
Ao contrário, a cartolagem se esmera em shows pornográficos de grosserias, preconceitos, chororôs intermináveis e falta de transparência.
Sim, sempre é obrigatório lembrar, há exceções civilizadas, como o CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz, que a cada vez que abre a boca revela bom senso, capaz de dizer que se a torcida de seu clube fizer o que fez a do Sport ele será o primeiro a aceitar a punição mais rigorosa possível.
Capaz também de planejar uma SAF sem entregar os dedos, no máximo os anéis, embora o Fortaleza tenha menos respaldo popular que Vasco, Cruzeiro ou Botafogo.
Mas é incapaz —porque não é o Super-Homem— de fazer com que os clubes da série A e B, divididos em ligas que não se ligam, remem todos no mesmo barco e na mesma direção.
Daí ser inevitável que um cartola cafajeste xingue o treinador estrangeiro do rival dentro de sua casa e demonstre o xenófobo sobrevivente em suas entranhas, apesar de o maior atual ídolo de seu time ter nascido fora do Brasil.
Ou que um clube receba quem está condenado por estupro ou contrate o treinador devedor de desculpas às mulheres do mundo, episódios desencadeadores de verdadeiro festival de selvagerias misóginas, machistas e odientas.
Precisa explicar o contingente de adoradores de torturadores, dos que batem continência para pneus ou acreditam na Terra plana.
A rara leitora e o raro leitor podem constatar o fenômeno nos comentários da esgotosfera e também nos veículos da chamada grande imprensa.
Quem está preocupado com a qualidade do espetáculo proporcionado pelos times brasileiros quando se vê o Flamengo em busca de jogador de meio de campo que não seja tão bom a ponto de ser chamado para nenhuma seleção, como Maycon, pois os seus serão e aqui a datas Fifa são tábula rasa?
Cada vez mais vemos mais cartolas com bíceps formidáveis e cérebros atrofiados, nos quais Tico e Teco formam dupla incomunicável. Realmente deplorável.
O pior é que novamente o governo federal jogou por água abaixo a possibilidade de ter no Ministério do Esporte alguém com conhecimento e capacidade para romper o círculo vicioso, e viciado, há décadas reinante em nosso futebol.
Estamos condenados ao papel de exportadores de pé de obra, nossas valorizadas commodities —tchau Endrick, bye-bye Vitor Roque, adeus Vinicius Junior!
E querem que o povo ame a seleção?
E não sabem por que desde 2002 a Copa do Mundo deixou de ser para o nosso bico?
Ou por que desde 2012 os clubes brasileiros são coadjuvantes no Mundial?
Ora, senhores, olhem-se no espelho!
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