Por que Raphael Veiga, o melhor meia brasileiro, o organizador do time do Palmeiras, foi convocado para os dois amistosos da seleção contra Guiné e Senegal?
Para conhecer Barcelona?
Para fazer turismo em Lisboa?
Para mostrar que não tem medo de avião?
Que sabe comer com garfo e faca em hotéis cinco estrelas?
Para aprimorar o espanhol? Ou o português?
Terá sido apenas para desfalcar o Palmeiras no jogo contra o Bahia, em Salvador?
Ramon Menezes não gosta de Abel Ferreira, teme que tome seu lugar a ponto de prejudicar o Palmeiras?
Ou será que nada disso tem importância porque Senegal progrediu tanto que engrossaria contra qualquer seleção brasileira dos tempos vitoriosos?
Que tal perguntar ao senhor Hansi Flick, o treinador da Alemanha que estava no banco do Mineirão naquele 7 a 1, auxiliar que era na seleção germânica?
Racionais como são os alemães, é capaz de ele responder que a inédita derrota para a Colômbia, por 2 a 0, em Gelsenkirchen, ainda se deve à praga brasileira rogada depois da goleada.
Porque ou o mundo da bola está de cabeça para baixo ou o Japão golear o Peru por 4 a 1, no mesmo dia das derrotas dos brasileiros para os senegaleses e dos alemães para os colombianos, virou normal.
"Ah, meu caro colunista", dirão a rara leitora e o raro leitor, "amistosos são amistosos, na hora da Copa do Mundo nada disso prevalecerá".
Ah, é?
Você lembra quem bateu a Argentina na Copa do Qatar, quando os hermanos ganharam brilhantemente o tricampeonato?
Pois foi a Arábia Saudita, sem nenhum, nenhum!, jogador conhecido, nem pelo PVC.
E não foi por um lance de sorte, 1 a 0 daqueles em que a bola de Lionel Messi e companhia teimou em não entrar. Foi por 2 a 1.
Zebras aconteceram em outras Copas do Mundo, como a vitória dos Estados Unidos sobre os então supostos reis do futebol, os ingleses, em Belo Horizonte, na Copa de 1950.
Ou a da Coreia do Norte sobre os então bicampeões mundiais italianos, em 1966, na Inglaterra.
Mas nem os ingleses nem os italianos reagiram e venceram aqueles mundiais.
Derrotas dessas acontecem por soberba, por erros na escalação, por falta de sorte e… porque cada vez mais os croatas dão as cartas, alemães, brasileiros e italianos apanham, africanos e asiáticos crescem, holandeses e belgas esmorecem na hora agá e os principais times de clubes pelo planeta afora são verdadeiras legiões estrangeiras.
O futebol virou esporte sem fronteiras, assim como o basquete do sérvio Nikola Jokic, do esloveno Luka Doncic, do grego Giannis Antetokounmpo e do camaronês Joel Embiid, todos já premiados como MVPs de temporadas seguidas.
Diante de tal realidade, a busca por Carlo Ancelotti por parte da CBF adquire até caráter simbólico, um toque de requinte para devolver a imagem dourada um dia refletida pela camisa amarela, tão maltratada nos últimos tempos, boleira e politicamente falando.
Como a maior parte de nossos clubes insiste em permanecer no século 20, a CBF procura, mesmo que como marketing, oxigenar velhos métodos que conduzem a seleção, no máximo, às quartas de final das Copas e que, quando as ultrapassam, terminam atropelados, como no Mineirão.
O futebol brasileiro enterrou o complexo de vira-latas em 1958 e hoje vive nova síndrome —a de comer mortadela e arrotar caviar.
Qualquer um pode com qualquer um.
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