Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

No futebol, o Brasil está para os vizinhos como a Europa está para nós

O continente do realismo fantástico na literatura se curva à nossa moeda

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Saem o guatemalteco Miguel Ángel Asturias, o colombiano Gabriel García Márquez, a chilena Isabel Allende e o argentino Julio Cortázar, entre tantos geniais escritores latino-americanos que produziram livros fabulosos sobre este nosso continente que não permite mesmo ser descrito só com o factual.

Entram os argentinos Nacho Fernández e Matías Zaracho, o venezuelano Jefferson Savarino, o paraguaio Gustavo Gómez, os uruguaios Giorgian De Arrascaeta e David Terans, além de Alerrandro Realino (e aqui tem singela pegadinha, perdoem a rara leitora e o raro leitor).

Porque os clubes brasileiros tomaram conta do continente graças, também, embora não apenas, aos jogadores que o investimento de agremiações como Atlético-MG, Palmeiras, Flamengo, Athletico e Bragantino podem fazer e nem mesmo o River Plate e o Boca Juniors, ambos eliminados da Libertadores pelos mineiros, têm condições no momento.

O Brasil está hoje para os vizinhos sul-americanos assim como a Europa, ou a Ásia, está para o Brasil.

O que explica o fato de três brasileiros estarem nas semifinais do maior torneio continental, com enormes chances de repetirem a temporada passada e fazerem a final, assim como com dois representantes nas semifinais da Copa Sul-Americana.

Explique-se logo a pegadinha: Alerrandro Barra Mansa Realino de Souza, como não diz o nome, mas revelam escandalosamente os sobrenomes, é brasileiríssimo, mineiro de Lavras, e atacante do Bragantino. Fosse de outro país sul-americano seria Alejandro, e o Realino de seu sobrenome só pode ser homenagem ao baiano Dias Gomes, que também gostava de se aventurar pelo realismo fantástico com seus personagens inesquecíveis.

Trocado em miúdos, estamos diante de semifinais continentais absolutamente fabulosas, principalmente as entre o Atlético-MG, que ainda tem entre seus titulares o zagueiro paraguaio Junior Alonso e o atacante chileno Eduardo Vargas, contra o Palmeiras.

Verdade que são dois brasileiros repatriados os que mais brilham nos timaços, com este incrível Hulk entre os mineiros e o decisivo Dudu entre os paulistas.

Previsões agora, a um mês dos embates em São Paulo e Belo Horizonte, nessa ordem, soam irrealistas. Por enquanto, só nos resta curtir a expectativa.

Diferentemente do olhar para Flamengo e Barcelona, segundo jogo em Guayaquil, quando se espera que os brasileiros viajem para o Equador com a vaga na final já garantida, desde que seus jogadores não compartilhem do otimismo da crítica e da torcida e olhem para o genérico como se fosse o original da Catalunha.

Na semifinais da Copa Sul-Americana, também daqui a um mês, o Bragantino assume ares de Flamengo ao receber o paraguaio Libertad no jogo de ida, enquanto Athletico e o uruguaio Peñarol farão o embate mais equilibrado, jogo de volta na Arena da Baixada.

Como se sabe, as finais dos dois torneios serão disputadas em Montevidéu, no lendário estádio Centenário, nos dias 20 e 27 de novembro.

Estádio Centenário, em Montevidéu
Estádio Centenário, em Montevidéu - Ernesto Ryan - 12.mai.21/Reuters

Entre oito semifinalistas, cinco brasileiros, um equatoriano, um uruguaio e um paraguaio, nenhum argentino, embora seja a Argentina a atual campeã da América.

Porque lá como cá, a seleção guarda quase nenhuma identidade com os clubes.

Enfim, principalmente os jogos entre os alvinegros mineiros e os alviverdes paulistas merecem ser vistos pelo coronel Aureliano Buendía.

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