O Brasil tem vontade, e Portugal quer. Juntam-se a fome e a vontade de comer. É verdade que a procissão ainda vai no adro, mas os dois países irmãos se querem como se o santo estivesse já no altar.
Será que S. Lula da Silva ainda reza em Lisboa antes de janeirar?
A Folha pautou a possibilidade dessa viagem. Na corte do presidente, ninguém a confirma, mas ninguém a desmente. A caminho do Cairo, stopover em Lisboa. Coisa linda, coisa boa. As vontades moram lá.
Conselheiros, consultores, amigos e lobistas. Todos na ponte atlântica. Quatro anos de afastamento deixaram aquelas saudades que a gente só sabe que tem porque as sente, como pelos namorados quando se afastam da gente. Petistas, ex-petistas, prefeitos, governadores, demais articuladores. Esta é a hora de o Brasil olhar estrategicamente o mundo através daquele país na Europa que fala português.
A história se escreve assim. Ninguém sabe como a coisa começa, ela se insinua lentamente até que —sem que ninguém enxergue o quando— se transforma em tendência. Depois vira uma causa a que todo o mundo quer aderir. E é religião. Esse apetite brasileiro por Portugal opera milagres. Faz o Google mudar de ideias e os apoiadores mais radicais de Bolsonaro desejarem morar num país governado por uma maioria de esquerda, onde o consumo de drogas é despenalizado, e o aborto, um direto inalienável das mulheres.
Em menos de uma década, a percepção sobre Portugal se alterou radicalmente, e brasileiras, brasileiros e brasileires de todas as classes, cultos, clubes, credos e gêneros escolhem Lisboa como plataforma social e de negócios. Personalidades muito relevantes do próximo poder de Brasília— putativos ministros, secretários apontados, doutores de toda a sorte— têm em Portugal, hoje, RG e passaporte. Endereço completo, vaga de parqueamento e, sem deixar nada à toa, já são cidadãos de Lisboa.
Quem conhece os sobrenomes sabe que a semana posterior à eleição foi um corrupio nos restaurantes da capital portuguesa. A Carla me pedindo para receber o Zé, que ia ficar uns dias ali antes de ir a Paris. O Zé tinha jantar de boas vindas com o Jorge, mas sua vida se complicou pois não saía do celular com o Brasil.
O Ricardo "perfeitamente" ciente da oportunidade também jantou com o Zé depois de ter encontrado empresários e investidores lusos na casa do Raimundo em um café da manhã cheio de energia e bons negócios, setas de satisfação. Michael e Marta e Clóvis e JP e Tatá. Coisas que a vida dá.
A viagem que hoje começa será longa, cheia de penitências e via sacras, mas é muito encantadora. Porque viajar virou uma condição, e a mobilidade não é mais apenas uma possibilidade, é uma condição crítica para o sucesso e um paradigma do progresso. Hoje o mundo é trânsito.
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