A última semana foi a primeira deste novo ombudsman. Restaram apenas observações.
Domingo. A Folha amanhece em casa com um novo caderno de cultura, Ilustrada Ilustríssima. No jornal impresso, é claro, já que no site Ilustrada continua Ilustrada, e Ilustríssima, Ilustríssima. A estreia inclui detalhado perfil do secretário da Cultura, que trabalha de pistola na cinta e conduz a ofensiva bolsonarista contra redes sociais. Outro destaque, texto sobre os 50 anos do show “Gal Fa-Tal”. Havia vida inteligente nos anos 1970, e muitos só se lembram dos coturnos .
O WhatsApp pisca. “Como a Folha publica uma coisa dessas?” O que provocou indignação foi o texto “Veja cinco bares onde assistir à final do Campeonato Paulista neste domingo”. Reportagem sobre uma atividade legal ou promoção de aglomeração em plena pandemia? É legítimo o jornal prover serviço aos leitores, é inegável a falta de sensibilidade (e assim será, por um bom tempo).
Morre o piloto André Ribeiro, único brasileiro a vencer uma corrida de Indy no Brasil, certamente memória apenas de quem passou anos na editoria de Esporte. Câncer de intestino, 55 anos. O fato passa batido pela Folha, que gastou papel com ele nos anos 1990.
Segunda-feira. O jornal registra a morte de Max Mosley, um dos cartolas mais importantes da F1, outra lembrança esportiva. Teve a carreira maculada por um vídeo, publicado pelo finado News of The World, em que aparecia em uma orgia com prostitutas vestido de nazista. A versão do jornal impresso, muito pequena, omite o detalhe que sublinha o fetiche: seu pai, Oswald Mosley, foi um líder fascista, trabalhou ostensivamente por Adolf Hitler no Reino Unido.
Segunda-feira pesada. A Folha publica mais detalhes da predação sexual sistemática atribuída a Saul Klein, denunciado por estupro e aliciamento por 14 jovens. A história das orgias supervisionadas até por ginecologistas causa repulsa, mas o título ameniza: “Saul Klein estruturou sítio para fetiches sexuais de ‘sugar daddy’’’. “Desde quando estupro é fetiche”, pergunta uma das vítimas em forte relato na quinta.
Terça-feira. A Folha lista as infrações cometidas pelo presidente e seu obediente general em passeio de moto no Rio. Editorial e colunista o descrevem como “selvagem da motocicleta”, alusão ao filme de Francis Ford Coppola. O personagem “Motorcycle Boy,” porém, passa longe da apropriação bolsonarista em duas rodas, tanto que é morto pela polícia... Tudo bem, ninguém se lembra mesmo dos anos 1980.
A morte de George Floyd, provocada pelo policial Derek Chauvin, completa um ano e é discutida em série de eventos no Instagram da Folha.
Ainda terça-feira. Vai ao ar o primeiro capítulo da série Inocentes Presos. O ponto alto é o vídeo com a jornada absurda do vendedor de balas Wilson Alberto Rosa, preso por 32 dias em 2017. A única semelhança entre Rosa e o assaltante é a cor da pele. Assista.
Quarta-feira. Título difícil na Primeira Página do jornal impresso: “Posição russa em prisão eleva seu poder na Belarus”. Em Saúde, reportagem mostra que o país tem menos isolamento social que campeões de vacinação. Misturando três variáveis, mortes, vacinação e mobilidade, os gráficos do assunto são impenetráveis.
Quinta-feira. Dia de revés histórico para o “Big Oil”. A Justiça da Holanda obriga a Shell a acelerar a redução de suas emissões; nos EUA, a Exxon Mobil é obrigada por acionistas a ceder dois assentos do conselho a representantes de um fundo ativista. Manchete de Financial Times e The Wall Street Journal, o tema é quase ignorado pelos pares brasileiros. O resto do planeta soa como ficção científica para quem vivencia a era Ricardo Salles.
Expresso Ilustrada, podcast cultural da Folha, explora o acompanhamento em ritmo de BBB da CPI da Covid, celebrado por cientistas sociais. Pênis, tênis, ex-atriz pornô, Holocausto, Nuremberg, a salada de assuntos de senadores e inquiridos é vasta. Ainda bem que existe Marcelo Adnet.
Sexta-feira. A Folha amanhece em formato de newsletters no celular. São várias as listas de notícias disponíveis. Nova ferramenta, o Minha Folha permite escolhê-las por assuntos, salvar artigos, seguir colunistas, tópicos e até repórteres.
O novo ombudsman agradece. Ler, ver e ouvir a Folha, assim como seus leitores, será rotina exclusiva nos próximos 12 meses. Não poder entrar na briga para ajudar a fazer e consertar as coisas, após quase três décadas de Redação, torna o processo bastante aflitivo. Sim, nada de novo.
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