Para mim, a melhor notícia do ano foi dada nesta quinta-feira (14), pela Folha. "Neil Young vai voltar ao Spotify após deixar serviço por causa de podcaster", escreveu a Ilustrada, me trazendo um alívio ao qual se seguiu o cancelamento do serviço de música extra que assinei apenas para ouvir Neil Young.
Young havia removido suas canções em janeiro de 2022 devido ao streaming não banir o podcast de Joe Rogan, que entrevistava médicos negacionistas na pandemia. Rogan era exclusivo da plataforma; agora não é mais.
"Minha decisão vem quando os serviços de música Apple e Amazon começaram a servir o mesmo podcast de desinformação. Não posso simplesmente deixá-los, porque minha música estaria muito pouco disponível, então retornei ao Spotify", lamentou o músico.
Eu também Neil, e lamento que na disputa do "ou eu ou ele", você tenha falhado miseravelmente. Essa é a má notícia que vem agregada à melhor do ano.
Agora, para mim, a pior notícia de 2024 é outra. Ela chegou em 2 de fevereiro, repetida inúmeras vezes por canais e sites de notícia. "Franz Kafka é o mais novo ‘cancelado’ da internet; entenda", escreveu um jornal. Li e entendi: é que ele frequentava prostitutas.
"Kafka é cancelado nas redes com vida sexual polêmica", disse este. Há muitos outros, como o espirituoso "Kafka acorda metamorfoseado em cancelado na internet".
Um concorrente foi se posicionando: "Franz Kafka cancelado? O azar é de quem cancela". Óbvio que é, bati palmas, mas confesso que fiquei angustiado. Só que não era para tanto.
Esses títulos, fui entender melhor, não correspondem à realidade. É enorme a diferença entre: a) uma mocinha —que se diz uma "fêmea supremacista" e "antipornô"— querer cancelar um dos três maiores escritores do século 20; e b) o efetivo cancelamento de nosso herói.
Mas, em tempos de caça-clique, a imprensa não parece se importar tanto com a verdade.
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