Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho
Descrição de chapéu clima mudança climática

Restauração de florestas como política de Estado

Modelos de parceria são chave para cumprir metas climáticas e substituir ecossistemas de economias ilícitas por empreendimentos verdes

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O Brasil tem feito esforços para alinhar os vários planos governamentais que determinam as suas rotas de descarbonização, proteção e regeneração da biodiversidade e natureza. É o caso, entre outros, do Plano Clima, do Plano de Transformação Ecológica, do programa Nova Indústria Brasil e do Plano Amazônia: Segurança e Soberania (Amas).

Por ora, o país tem o desmatamento zero e a restauração de 12 milhões de hectares de florestas até 2030 como metas prioritárias para cumprir sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) — que define a ambição climática das nações signatárias do Acordo de Paris.

A conservação e a restauração de florestas não só são chave para nossa meta de redução de emissão de gases de efeito estufa, mas para a economia, já que praticamente todos os setores econômicos dependem da natureza, e mais da metade do PIB global depende de seus serviços ecossistêmicos.

A imagem mostra uma área de desmatamento com várias pilhas de troncos de árvores cortadas. Há maquinário pesado, incluindo tratores e caminhões, operando no local. O terreno é de terra batida e ao fundo é possível ver uma linha de árvores que ainda não foram derrubadas.
Movimentação de tratores em um porto improvisado às margens do rio Arapiuns, afluente do rio Tapajós, no Pará, um dos estados mais avançados nas concessões de restauração florestal - Pedro Ladeira - 31.ago.22/Folhapres

Nesse contexto, o governo federal, por meio do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), e as secretarias estaduais de Meio Ambiente se preparam para lançar concessões de restauração florestal ecológica e produtiva. Um dos mais avançados é o do Pará, anfitrião da COP30, que entende a necessidade de que o governo compartilhe os riscos territoriais do restauro, uma vez que é feito em terras públicas e para o bem público.

O Pará vai lançar em breve sua primeira concessão de restauro, que vai dividir com as empresas vencedoras os riscos de segurança pública e de incêndio – considerados os maiores riscos destas operações. A visão é de uma concessão modelo-paisagem, envolvendo também o desenvolvimento de políticas públicas no entorno das áreas restauradas, criando um ambiente mais favorável para investimentos.

O SFB também anunciou a retomada de sua política de concessão, começando por 15 mil hectares da Flona Bom Futuro em Rondônia. Porém, o governo federal ainda não prevê o compartilhamento dos riscos territoriais que, como descrevi em minha coluna passada, afetam os empreendedores e investidores interessados nos mercados baseados na natureza, e sobretudo as populações locais.

É fato que o desafio de se garantir integridade e segurança em áreas tão vastas como o previsto em nossa NDC é imenso. Mas o Estado precisa priorizar a retomada do controle sobre áreas hoje invadidas e ocupadas por economias ilícitas. Caso contrário, vamos falhar em nossa política de restauro, no cumprimento das metas do Acordo de Paris —e no nosso quinhão na preservação do bem-estar da humanidade e do planeta.

Se não pudermos garantir a segurança nos territórios nos quais estamos concedendo áreas públicas para restauro, é melhor dizer que estamos fechados para negócios, assumir que a nossa soberania já foi perdida para o crime organizado e que nada podemos fazer para reverter esse processo.

O presidente Lula, na semana passada, reiterou a importância do Plano Amas, que é parte fundamental da solução e precisa ser priorizado, integrado aos outros planos e implementado com a máxima urgência.

Isso requer mapear e compartilhar responsabilidades sobre riscos territoriais e políticos. E exige também que, além do Executivo, os poderes Legislativo e Judiciário assumam sua fundamental parte da responsabilidade. Parcerias com todos os setores também precisam ser feitas para incluir dezenas de milhares de famílias em empreendimentos verdes compatíveis com a floresta em pé.

As políticas de restauro são um compromisso com as atuais e futuras gerações. É hora de o governo federal coordenar esforços e pactuar com os outros poderes uma política de Estado duradoura —que garanta a permanência de projetos de restauro que têm, em geral, duração mínima de 30 anos. Só assim o Brasil poderá liderar a transição ecológica pela ação, entregar suas metas e sua ambição de potência ambiental e climática.

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