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Doutor em ci�ncia pol�tica pela Universidade Stanford, � fundador e presidente do Eurasia Group, principal consultoria de risco pol�tico dos EUA. Escreve �s ter�as, mensalmente.
Sa�da dos EUA de acordo clim�tico indica aus�ncia de lideran�a no mundo
A decis�o de Donald Trump na semana passada de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre a mudan�a clim�tica enviou um sinal muito claro de que hoje vivemos em um mundo com gravidade zero, um mundo sem uma lideran�a consistente.
Quem � o l�der do mundo livre hoje? N�o � Trump, o primeiro presidente americano desde os anos 1930 que n�o acredita que a lideran�a internacional seja do interesse dos EUA. Para Trump, tudo � uma transa��o. Ele n�o v� o mundo como uma comunidade –�s vezes cooperativa, �s vezes contenciosa–, mas como uma arena em que l�deres fortes lutam pelo predom�nio. Essa vis�o atrai a Trump pessoalmente, e ele sabe que seus leais apoiadores tamb�m a apreciam.
Os europeus est�o liderando o mundo livre hoje? N�o exatamente. A alian�a transatl�ntica vem se esvaziando gradualmente h� muitos anos, e a elei��o de Trump fez l�deres veteranos como Angela Merkel, da Alemanha, e novos, como Emmanuel Macron, da Fran�a, buscarem apressadamente novas estrat�gias. Os americanos desconfiam da Otan (alian�a militar ocidental), os brit�nicos est�o deixando a Uni�o Europeia e os partidos pol�ticos antieuropeus continuam avan�ando, mesmo que ainda n�o ganhem elei��es.
Merkel e Macron n�o parecem concordar sobre o melhor rumo para a Europa seguir, e se os l�deres europeus n�o cumprirem as demandas de suas popula��es por mudan�as as for�as populistas que transformaram a pol�tica europeia nos �ltimos anos continuar�o crescendo.
O terreno tamb�m est� mudando no Oriente M�dio. Trump pode ter melhores rela��es com Vladimir Putin, da R�ssia, com Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, e com o israelense Binyamin Netanyahu do que tinha Barack Obama, mas isso n�o traz uma nova ordem a uma regi�o ainda vol�til. Nos campos de batalha da S�ria, os EUA, a R�ssia, o Ir�, a Turquia, a Ar�bia Saudita e Israel t�m interesses claramente diferentes –e nenhum deles � forte o suficiente para impor sua vontade.
A organiza��o terrorista Estado Isl�mico perder� o pouco terreno que lhe resta, mas continuar� usando as novas ferramentas de m�dia para inspirar seguidores, imitadores e os perturbados emocionalmente. O principal problema do terrorismo em um mundo de gravidade zero � que a desconfian�a m�tua, e n�o a necessidade reconhecida de compartilhar informa��o entre as ag�ncias de intelig�ncia do mundo, � hoje a caracter�stica que define o ciberespa�o. Em nenhum lugar a gravidade zero � mais evidente.
Quem carrega o estandarte do livre com�rcio hoje? Os EUA, h� muito tempo seu campe�o, sa�ram da Parceria Transpac�fico, um acordo de escala hist�rica que teria alinhado as grandes economias dos dois lados do Pac�fico. Apesar dos melhores esfor�os do primeiro-ministro japon�s, Shinzo Abe, os EUA parecem decididos a ficar fora do acordo, pelo menos enquanto Trump for presidente.
Mas isto n�o tem a ver simplesmente com Trump. Lembre que os democratas Hillary Clinton (com relut�ncia) e Bernie Sanders (de maneira enf�tica) tamb�m se opuseram ao TPP. Trump deixou claro que quer reescrever o Nafta (acordo de livre com�rcio da Am�rica do Norte) com o Canad� e o M�xico. Um mega-acordo com a Europa, a Parceria Transatl�ntica de Com�rcio e Investimento (TTIP), hoje est� enterrado sob o peso da oposi��o em diversos pa�ses. Ainda h� acordos comerciais multilaterais genuinamente ambiciosos tomando forma, especialmente o novo acordo entre Canad� e EUA. Mas este � uma exce��o.
A China � o novo l�der do com�rcio? N�o exatamente. O presidente Xi Jinping ganhou manchetes no in�cio deste ano no F�rum Econ�mico Mundial em Davos com uma defesa entusi�stica do com�rcio global. "Praticar o protecionismo", advertiu ele, "� como trancar-se em um quarto escuro. O vento e a chuva podem ficar l� fora, mas tamb�m a luz e o ar."
A Parceria Econ�mica Regional Abrangente (RCEP), liderada pela China, um acordo composto pelos dez pa�ses da Asean mais Austr�lia, China, �ndia, Jap�o, Coreia do Sul e Nova Zel�ndia, envolve muito menos integra��o real de mercados que o mais ambicioso TPP. Ele pouco diz, por exemplo, sobre investimento, pol�tica intelectual e pol�tica de concorr�ncia.
H� tamb�m o projeto chin�s "Um Cintur�o, Uma Estrada", um plano enormemente ambicioso para dirigir investimentos maci�os ao sul e ao centro da �sia, para criar novos caminhos para o com�rcio entre a �sia e a Europa. Se for executado com intelig�ncia, esse projeto poder� constituir um impulso econ�mico hist�rico � China, � UE e a muitos pa�ses pobres entre eles.
Infelizmente, n�o h� garantias de que o dinheiro ser� investido por raz�es econ�micas, e n�o pol�ticas. A corrup��o e a incompet�ncia poder�o retardar o progresso, restringir ambi��es e instigar conflitos pol�ticos. A China tampouco est� pronta para oferecer lideran�a com credibilidade por raz�es de seguran�a, e a incapacidade da China e dos EUA de trabalharem juntos para resolver o problema da Coreia do Norte sugere que esse conflito poder� prejudicar o com�rcio, mesmo no Extremo Oriente.
O n�mero de pontos de combust�o globais e de "problemas sem fronteiras" continua crescendo, e n�o h� planos cooperativos veross�meis para administr�-los, muito menos para resolver os problemas que os criaram. Por enquanto, parece que a ordem da gravidade zero veio para ficar.
Traduzido por LUIZ ROBERTO MENDES GON�ALVES
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