Doutor em ci�ncia pol�tica pela Universidade Stanford, � fundador e presidente do Eurasia Group, principal consultoria de risco pol�tico dos EUA. Escreve �s ter�as, mensalmente.
H� chance de Marine Le Pen conquistar a Presid�ncia da Fran�a
Jean-Fran�ois Monier/AFP | ||
A candidata da extrema direita, Marine Le Pen, discursa em com�cio em La Bazoche-Gouet |
Parece existir consenso de que Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional, o partido franc�s de extrema direita, chegar� ao segundo turno da elei��o presidencial deste ano e nele ser� derrotada por um oponente mais convencional, por ampla margem. Foi o que aconteceu com o pai dela em 2002.
Calma l�. Le Pen tem chance real de se tornar a pr�xima presidente da Fran�a. Se o fizer, pode causar estrago muito maior do que at� mesmo ela pretende, para a economia da Fran�a e seu papel na Europa.
As chances de vit�ria de Le Pen s�o maiores do que a maioria das pessoas imagina. Para come�ar, ela enfrenta um conjunto de advers�rios muito problem�tico. Benoit Hamon e Jean-Luc M�lenchon dividiram os votos da esquerda. Fran�ois Fillon, o candidato do partido Les R�publicains, de centro direita, foi fortemente abalado por acusa��es de corrup��o. O candidato centrista Emmanuel Macron n�o foi testado at� agora, e n�o tem base de apoio confi�vel. Le Pen pode n�o contar com apoio majorit�rio, mas seus eleitores parecem mais motivados que os de qualquer de seus rivais.
Em novembro do ano passado, Donald Trump obteve o apoio de apenas 26% do total de eleitores poss�veis nos Estados Unidos. Com a falta de entusiasmo pela candidatura de Hillary Clinton e a decis�o de milh�es de norte-americanos de ficar em casa no dia da vota��o, os 26% de eleitores apaixonados conquistados por Trump bastaram para lhe valer a vit�ria.
Al�m disso como no caso de Trump e daqueles que batalharam pela sa�da brit�nica da Uni�o Europeia, Le Pen j� demonstrou grande talento em apelar diretamente �s ansiedades de milh�es de eleitores sobre quest�es como o emprego, estagna��o econ�mica, imigra��o e seguran�a.
Quanto a todas essas quest�es, as manchetes daqui at� a elei��o provavelmente ser�o mais vantajosas para Le Pen do que para qualquer de seus oponentes, especialmente se acontecer outro ataque terrorista no cora��o da Europa ou se houver mais incidentes violentos entre a pol�cia francesa e os jovens raivosos das "banlieues", as periferias empobrecidas das grandes cidades do pa�s.
Um fato que melhora ainda mais as chances de Le Pen � que Macron, seu mais prov�vel advers�rio no segundo turno, pode perder apoio dos eleitores de centro direita caso Le Pen use contra ele sua participa��o no governo do presidente Fran�ois Hollande, profundamente impopular.
Macron tamb�m � vulner�vel em outras �reas. Ele ainda n�o enfrentou esc�ndalos como os que abalaram a candidatura de Fillon, e o escrut�nio que os acompanha, mas isso pode mudar. Da mesma forma que Hillary Clinton enfrentou vazamentos embara�osos de origem incerta, Macron pode encontrar obst�culos semelhantes.
Tamb�m � poss�vel que o apoio � sua candidatura comece a cair antes do primeiro turno, e que o problem�tico Fillon chegue ao segundo turno. Nesse caso, os eleitores de esquerda � que podem optar por ficar em casa.
Se Le Pen conseguir a vit�ria, os danos que causar� � economia da Fran�a e � posi��o do pa�s na Europa podem n�o acontecer por meios pol�ticos. Ela n�o teria como propor um referendo sobre a participa��o da Fran�a na Uni�o Europeia ou na �rea do euro porque o artigo 11 da Constitui��o francesa s� permite referendo sobre quest�es que n�o requerem mudan�a na Constitui��o. O artigo 88 da constitui��o da Fran�a estabelece a participa��o do pa�s na Uni�o Europeia.
E o partido de Le Pen tampouco eleger� legisladores em n�mero suficiente, na elei��o de junho, para que a Frente Nacional possa formar um governo pr�prio. For�ada a formar um governo com outro partido, provavelmente de centro direita, Le Pen n�o ter� muitas influ�ncia na pol�tica interna –particularmente quanto a qualquer proposta de reformar a Constitui��o a fim de permitir que o pa�s deixe a Uni�o Europeia ou a zona do euro.
Mas, se ela vencer, a incerteza e inquieta��o que se seguir�o � sua elei��o causar�o ondas de choque nos mercados financeiros. Se os administradores de reservas cambiais do planeta, que det�m cerca de 700 bilh�es de euros em t�tulos de d�vida do governo da Fran�a, decidirem vender grande quantidade desses pap�is, � poss�vel que o programa de relaxamento quantitativo do Banco Central Europeu n�o baste para compensar o movimento, o que resultaria em alta acentuada para as taxas dos t�tulos p�blicos franceses.
Nesse caso, n�o est� claro de onde poderia vir o socorro necess�rio. Ou as ag�ncias de classifica��o de cr�dito podem decidir que qualquer tentativa de alterar a denomina��o dos t�tulos de d�vida franceses, o que Le Pen prometeu fazer, constitui calote, que viria acompanhado por uma crise de confian�a nos quatro "bancos internacionais sistemicamente importantes" do pa�s, causando uma corrida a todos os bancos da Fran�a.
Em um cen�rio como esse, tamb�m poder�amos ver fuga de capitais, com correntistas e investidores franceses tentando tirar dinheiro do pa�s.
N�o podemos prever como a presidente Le Pen responderia a essas press�es. E talvez nem ela mesma saiba. Mas uma emerg�ncia que force uma sa�da descoordenada da zona do euro criaria caos –para a Fran�a, para a Europa e para o mundo.
IAN BREMMER � presidente do Eurasia Group e autor de "Superpower: Three Choices for America's Role in the World"
Tradu��o de PAULO MIGLIACCI
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