Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu câncer réveillon

Sempre teremos Zurique

Eutanásia de minha cachorra me convenceu de que quero o mesmo para mim se enfrentar situação semelhante

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Por quase 11 anos, convivi diariamente com Nina, uma golden retriever com muita personalidade e um apetite insaciável. Ela era fofa e carinhosa como só os goldens conseguem ser, mas também podia revelar-se profundamente irritante, sumindo com sapatos ou me acordando no meio da noite e exigindo descer.

Pega no pulo ao se apropriar de um pincel - Hélio Schwartsman

Em meados de 2023, surgiu um nódulo suspeito no pescoço de Nina. Algumas punções e uma cirurgia depois, veio o diagnóstico de linfoma de células grandes, de alto grau.

Ela encarou o primeiro ciclo de quimioterapia com galhardia. Não vou dizer que não houve efeitos adversos, mas eles eram manejáveis.

A químio lhe comprou tempo. Mantivemos a doença sob controle por um ano e meio, o que equivale a 10% da expectativa de vida para cães de seu porte. Em escala humana, seriam sete ou oito anos de remissão.

Três meses atrás, o tumor reapareceu. Tentamos um segundo ciclo de quimioterapia, mas os exames de Nina pioravam semanalmente. Veio uma anemia e a função renal se deteriorava. Ela agora se recusava a descer do carro quando chegávamos à porta da clínica —o que provavelmente é o mais perto de uma diretiva de tratamento que um cão pode oferecer. Suspendemos a químio e a colocamos em cuidados paliativos.

A golden retriever Nina (2014-2025), do colunista Hélio Schwartsman
Feliz com seu 'butim' - Hélio Schwartsman

Nos últimos meses ela ainda teve uma boa qualidade de vida. Comia bem e dava passeios curtos. Foi mimada por todos lá de casa.

Três dias depois do Réveillon, Nina parou de andar. Nós havíamos decidido que ela não passaria por sofrimento desnecessário. Eu e meu filho a levamos até uma clínica perto do sítio e ela foi submetida a um procedimento de eutanásia. Propofol, quetamina com diazepam e KCl. Foi difícil vê-la fechar os olhos pela última vez, mas estou certo de que fizemos a coisa certa ao poupá-la de um final de vida difícil e provavelmente doloroso.

Saí com a convicção de que é o que quero para mim, caso enfrente situação semelhante à de Nina. Espero que até lá a legislação já permita a cada cidadão brasileiro decidir como sairá de cena. Se não permitir, sempre teremos Zurique, ou as zonas cinzentas do controle da dor.

Nina em pose para foto
Em pose de estrela - Hélio Schwartsman

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