Imigração, o problema que é solução

Não acho que Deus exista, mas, se há um criador, ele tem senso de humor. O traço comum que ele imprimiu à maior parte dos grupos de direita, em especial os dos países ricos, é a recusa à imigração. É o que une a ampla variedade de partidos da direita radical europeia, do Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, ao mais extremista Alternativa para a Alemanha, que se desentendem em vários outros assuntos.

O medo da imigração também está dando as cartas na eleição americana. Embora o presidente Joe Biden tenha um histórico favorável à entrada de estrangeiros, acaba de baixar medidas que a restringem fortemente. Fê-lo porque esse é um tema em que os republicanos, que são muito mais anti-imigração que os democratas, vêm se mostrando mais sintonizados com o eleitorado.

O detalhe irônico é que a imigração é a solução, ainda que parcial, para os desafios econômicos que assombram os países ricos.

É claro que, se todo mundo acredita que a imigração é um problema, ela se torna um. Se os estrangeiros não são bem recebidos pela população autóctone, surgem focos de atrito, a coesão social diminui e pode haver violência. Mas nem todos os pontos de divergência têm dimensão negativa. O choque de diferentes formas de ver o mundo favorece a criatividade e a inovação. Sociedades multiculturais tendem a ser bem mais dinâmicas do que aquelas em que todos são comportamentalmente muito parecidos. Como já ensinava Platão, a filosofia surge com o "thaumázein", o verbo grego para surpreender-se, estranhar.

Admito que é difícil convencer um indivíduo que pensa que seu emprego e cultura estão ameaçados pelo estrangeiro das virtudes do "thaumázein", mas existem argumentos pró-imigração bem mais concretos. Especialmente para os europeus, que têm cada vez menos filhos, receber trabalhadores de outros países é a melhor maneira de assegurar que os cheques da Previdência continuem chegando.