Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Beltrão

Partido Novo entra em nova fase, menos personalista

Saída do diretório de membros ligados a Amoêdo melhora governança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Com a saída, na segunda-feira (6), de dissidentes que representavam metade dos membros do diretório nacional, a governança do Partido Novo inicia uma promissora superação de um período turbulento de brigas internas, principalmente entre o fundador, João Amoêdo, e os mandatários.

Os mandatários legislativos do Novo —oito deputados federais e algumas dezenas de deputados estaduais e vereadores— têm sido determinantes para imprimir viés mais liberal às políticas públicas brasileiras. Como próximo passo, o partido —que governa Minas com Romeu Zema— pretende dobrar o número de deputados federais e alcançar a cláusula de barreira nas eleições deste ano, munidos de uma nominata de 900 candidatos e pelo menos 6 candidatos a governador.

É um considerável desafio, pois uma eleição como a de 2022 exige preparação serena e contínua durante quatro anos, o que não ocorreu em razão dos conflitos internos. A boa notícia é que agora a tranquilidade tende a ser reestabelecida e a boa governança ganhou força. A má é que houve considerável estrago na gestão anterior, que causou grande perda de filiados (de 47 mil para 30 mil), e agora falta pouco tempo para o pleito.

Filiados do Partido Novo durante ação de campanha na eleição municipal de 2020, na cidade de São Paulo - Rubens Cavallari - 27.set.2020/Folhapress

O Novo enfrenta processo similar a todo empreendimento familiar que cresce: deixar de ser uma "eupresa" —integralmente dependente de seu fundador— para se tornar uma "empresa".

Um fundador —que tem a visão, a iniciativa e a capacidade de execução para gerar lucros— costuma achar que só ele sabe o melhor para a empresa. Com o crescimento, é comum que a excessiva centralização no fundador, sua obsessão por controle e sua desconfiança em estabelecer processos eficazes impeçam a empresa de se tornar grande e acabe contribuindo com as estatísticas de falência.

Embora houvesse saído do comando formal do Novo em 2020 para se dedicar à sua pré-candidatura, Amoêdo permaneceu com sólido controle do diretório nacional e dava as cartas no partido. Mas sua pré-candidatura sofreu resistência das bases, não prosperou, e surgiu o excelente nome de Luiz Felipe d’Avila.

Para o grupo amoedista no controle, deveria haver uma visão única e purista no partido: todos deveriam praticar oposição obcecada ao governo, independentemente de a pauta em questão ser boa ou ruim para o país. Imbuído por tal missão dogmática —incompatível com o preceito fundamental do partido em defender a diminuição da intrusão estatal—, seu foco foi torcer o braço dos mandatários, procurando comandá-los centralmente, como em uma empresa centralizada que emite memorandos vinculando os funcionários da linha de frente.

Se em uma empresa tal lógica já é destrutiva, no caso de um partido é muito pior. Os dirigentes e filiados ativos são voluntários, e os mandatários são preparadíssimos, estão nas trincheiras de negociação da política e, diferentemente dos dirigentes, possuem a legitimação de centenas de milhares de votos. A participação política robusta exige saudável descentralização.

A investida não vingou, e começou então a tentativa de travar decisões e de expurgar do partido os supostamente mais desobedientes, tachados injustamente de bolsonaristas, como o governador Zema e o brilhante deputado Marcel van Hattem, entre outros.

No fundo, havia duas filosofias em conflito: a) todos no partido deveriam pensar como a liderança, ainda que a custo de permanecer um pequeno partido de nicho, e b) é fundamental permitir a pluralidade de vertentes e uma governança menos personalista e centralizada, precondição para o crescimento e para fazer cada vez mais diferença em políticas públicas.

Depois de longo conflito, que muitas vezes veio a público, a segunda visão saiu vencedora. É boa notícia para o país, e para o liberalismo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.