Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
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Todas aborto

Congresso legaliza aborto, mas só para homens

Agora eles poderão renunciar à paternidade dentro das quatro linhas da Constituição

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O Congresso Nacional aprovou nesta semana o PL que torna o aborto legal. Mas o texto possui uma restrição: a intervenção só poderá ser realizada em homens.

A ideia surgiu após a polêmica em torno do PL que proíbe a interrupção de gravidez após 22 semanas, inclusive em mulheres vítimas de estupro.

Para tranquilizar a sociedade, os relatores decidiram alterar o texto e liberar o aborto em qualquer tempo da gestação, mas apenas para pessoas do sexo masculino.

Como cidadãos com o cromossomo XY não são capazes de engravidar, o novo PL autoriza que, para eles, o aborto seja autorizado após o parto. Agora os homens poderão renunciar à paternidade, ou seja, abandonar seus filhos como sempre fizeram, mas dentro das quatro linhas da Constituição.

"É uma grande vitória para a sociedade. Agora milhões de homens vão poder decidir se querem ou não ser pais, quando desejarem", comemora o deputado Jairo Largos Filho, idealizador do PL.

Para os apoiadores, o texto representa um avanço, pois o aborto masculino poderá ser realizado em qualquer idade. "Eu mesmo fiz um aborto de um filho de cinco anos e não me arrependo. Agora poderei fazer outros, mas com o respaldo da lei, pois não precisarei pagar pensão", celebra Largos Filho.

Na ilustração de Galvão Bertazzi um homem de bigode, usando um crucifixo no pescoço está segurando um menino pelas pernas. Ele está prestes a jogar o menino dentro de uma lata de lixo onde está escrito: ABORTE AQUI! Ele faz sinal de "joinha" e está dizendo: EU APOIO!. Ao seu redor, pilhas e pilhas de lixo com crianças espalhadas por todos os cantos. Atrás dele outros dois homens estão esperando a vez de jogarem suas crianças no lixo.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flávia Boggio de 19 de junho de 2024 - Galvão Bertazzi/Folhapress

Após a aprovação do PL, relatores já articulam o programa "Aborto para Todos". Um dos autores do projeto, Dedé Vepensão, deixa claro: "Não é todas ou todes, como os esquerdistas falam. Inclui apenas o sexo masculino".

Questionado se o texto não seria machista, já que privilegia exclusivamente homens, o deputado Beto Paique Some retruca: "Somos homens, mas somos filhos de mulheres e temos amantes mulheres. Mais feminista do que eu?".

A medida exclui meninas vítimas de estupro, que permanecem proibidas de abortar. O relator do PL, Proença Fado, justifica: "Aborto durante a gestação é pecado, porque é um milagre. E os fetos são filhos de Deus, não meus".

Indagado se pretende realizar um aborto, o deputado é categórico: "Eu mesmo estou com uma gestação de 10 anos e decidi que vou abortar. Nem ouvi o coração da criança ainda, então tenho minha consciência tranquila. A mãe que lute".

Para os integrantes da classe alta que estão preocupados com possíveis gestações indesejadas, Largos Filho tranquiliza: "O aborto continua legalizado para mulheres ricas e para nossas amantes, que podem interromper a gravidez no conforto de uma clínica particular. Como sempre".

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