![fabrício corsaletti](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513495-115x150-1.jpeg)
Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Zumbis
"Vamos no cinema hoje �s 16h30 ver um filme coreano de zumbis (s�rio!)?", dizia o WhatsApp do meu amigo. Topei na hora. N�o porque seja um grande f� de zumbis, pelo contr�rio, nunca penso neles, mas porque fazia tempo que eu n�o via esse amigo e em geral das 17h �s 19h estou de saco cheio de tudo, j� trabalhei o que tinha que trabalhar, n�o consigo mais ler nem cozinhar nem resolver aquelas pequenas encrencas dom�sticas —malditas roldanas do varal quebradas h� meses. Um filme coreano de zumbis! "Depois tomamos umas cervejas", continuava a mensagem. Encarei o convite como uma liberta��o.
Dentro da sala quase vazia, eu falava com meu amigo, que tamb�m � escritor, sobre o novo (e �timo) livro do Matthew Shirts, "A feijoada completa", quando vi um rosto conhecido subindo a escada. Eu disse: cara, olha quem t� a�! Era a terceira cronista de jornal naquela sess�o da tarde, e tinha escolhido uma poltrona na mesma fileira que a nossa. Sentou do meu lado e nos ofereceu pipoca org�nica. Rimos da coincid�ncia.
Houve uma r�pida discuss�o em tom avacalhado sobre se dev�amos: 1) manter em segredo o programa adolescente quando volt�ssemos pra rua, a fim de n�o manchar a reputa��o de ningu�m, ou 2) escrever cada um uma cr�nica a respeito —nenhum de n�s tinha qualquer reputa��o a perder. Ent�o nossa amiga tirou o smartphone da bolsa e fez uma selfie, que postou no Facebook (n�o tenho Facebook mas me contaram), encerrando a conversa.
Pedro Piccinini | ||
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O filme de Yeon Sang-ho era um pesadelo persecut�rio: milhares de zumbis perseguindo uns poucos sobreviventes dentro e fora de um trem pra Busan, a �nica cidade do pa�s (a Coreia do Sul) ainda n�o arrasada pela epidemia. Algumas cenas s�o de tirar o f�lego, aqui e ali d� pra levar um susto, mas n�o � um filme de terror e sim de a��o. Gosto de filmes de a��o e adorei "Invas�o Zumbi".
Depois, num bar da Augusta, listamos as diferen�as entre zumbis e seus primos distantes, os vampiros. Concordamos que vampiros s�o mais sofisticados; n�o andam em bando; s�o freudianamente melanc�licos e romanticamente sensuais —poetas do s�culo 19 batalhando por virgens de sangue fresco. Zumbis, por sua vez, n�o t�m individualidade (um zumbi � um zumbi � um zumbi); orientando-se por sons, parecem morcegos com catarata; n�o passam de m�quinas de devorar carne humana. Chegamos � conclus�o de que vampiros s�o mais interessantes, mas que de vez em quando s� mesmo uma boa catarse com zumbis pra exorcizar o baixo-astral.
A noite caiu e nossa amiga foi encontrar o marido num restaurante; meu amigo e eu sa�mos atr�s de um boteco barato. Acabamos no Pescador, a duas quadras de casa, onde o gar�om ficou ofendido por eu ter perguntado pela mil�sima vez como ele se chamava. Cosimir! Claro: como esquecer um nome desses? Mas convenhamos: como lembrar?
Algumas horas mais tarde, j� devidamente transformados, n�o em vampiros, quem me dera, mas em t�picos zumbis do Baixo Augusta, foi cada um pro seu lado arrastando a promessa de na manh� seguinte escrever uma cr�nica sobre aquele dia engra�ado e vagabundo. Com estas mal tra�adas, cumpro a minha parte.
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