Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Louva��o
Pedro Piccinni | ||
Apesar de n�o ter muita paci�ncia pra futebol, posso at� achar divertida, antes do derramamento de sangue, a rivalidade entre flamenguistas e tricolores, gremistas e colorados, corintianos e palmeirenses. (Se interessa saber, sou, ou fui, palmeirense, mas n�o me perguntem nenhuma escala��o do Palmeiras posterior � de 1993 —ano de gl�ria—, que sei de cor e �s vezes digo em voz alta, nos momentos ruins.)
Por�m nunca me conformei com a rixa entre paulistas e cariocas, entre brasileiros e argentinos —j� n�o estou falando do mundo do esporte. Gosto do Rio e adoro Buenos Aires, sempre fui muito bem tratado nos dois lugares, e a verdade � que nem sei como continuar essa conversa.
Melhor parar por aqui.
Que hoje eu s� quero mesmo � fazer a louva��o dos escritores e poetas cariocas que invadiram S�o Paulo nos �ltimos anos, como doces b�rbaros, e dos quais, pra minha sorte, acabei me tornando amigo.
S�o eles: Jo�o Paulo Cuenca, romancista e cronista, autor de "O �nico Final Feliz para uma Hist�ria de Amor � um Acidente" e "Descobri que Estava Morto" (vou citar dois livros de cada); Bruna Beber, poeta, autora de "Bal�s" e "Rua da Padaria"; Leonardo Gandolfi, poeta, autor de "A Morte de Tony Bennett" e "Escala Richter"; Mar�lia Garcia, poeta, autora de "Engano Geogr�fico" e "Um Teste de Resistores"; Paloma Vidal, romancista, contista e poeta, autora de "Mais ao Sul" e "Algum Lugar"; Pedro Rego, poeta, autor de "Nuga" e "Coisa Esquisita e Outros Poemas"; e a rec�m-chegada Alice Sant'Anna, poeta, autora de "Rabo de Baleia" e "P� do Ouvido".
N�o importam as raz�es que levaram essa gente a abandonar o cart�o-postal com mar, Dois Irm�os e Adega P�rola —permitam-me, nestes tempos estranhos, uma ligeira idealiza��o bossa-novista— pra vir morar na metr�pole mais cinzenta e polu�da do Brasil. (Ser� que eles j� caminharam pela Teodoro Sampaio �s seis da tarde, de mochila nas costas, est�mago roncando e desodorante vencido?)
O fato � que, gra�as a essa nova leva de imigrantes, as livrarias (em dias de lan�amento), os apartamentos (em dias de festa) e os bares (em noites que n�o deveriam terminar jamais) da Verdadeira Cidade Maravilhosa —como outro amigo e poeta carioca, o Eucana� Ferraz, carinhosamente apelidou S�o Paulo— ficaram muito mais interessantes.
E � uma del�cia ouvir o �spero e doce sotaque carioca numa esquina qualquer da rua Augusta, tomando cerveja e comendo amendoim e observando as cal�adas se encherem e se esvaziarem.
Aos 20 anos quis ser carioca, n�o deu certo. Aos 30 tentei ser paulistano, isto �, de lugar nenhum, e tamb�m falhei. Mas agora que os 40 se aproximam volto a ter esperan�as, como aquele adolescente franc�s que todos n�s amamos, "de encontrar o lugar e a f�rmula". E em boa parte devo isso aos cariocas de S�o Paulo.
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