Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Ins�nias
MULA
Voc� � uma mula, meu tio me dizia. Mas eu amava os cavalos. Os pangar�s reais e os alaz�es imagin�rios. Os puros-sangues ingleses e os mustangues norte-americanos. Os mangas-largas pretos; os andaluzes brancos; os �rabes, de fogo, no deserto. Era, no fundo, um elitista. Esse tempo passou. Hoje s� amo as mulas. – As mulas ou nada.
ANDARILHOS
Os andarilhos, os vagabundos, os idiotas v�o pelas beiras de estradas e sarjetas. Passarinhos creem que s�o �rvores. Formigas sabem que s�o santos. Parecem ter atravessado sonhos com seus farrapos cinza-azuis.
Estou pensando num homem que conheci num abrigo municipal de S�o Paulo; um leitor de Dostoi�vski com duas filhas que ele n�o via h� seis anos; um sujeito que perdeu tudo, inclusive a mem�ria, depois de um acidente de �nibus.
Os andarilhos, os vagabundos, os idiotas v�o rente aos bueiros e �s paredes sem reboco. Com seu laconismo seduzem os poetas. Com sua bondade amaldi�oam uma por uma as 500 aldeias do Mato Grosso do Sul.
SON�MBULO
parcialmente roubado de Karl Ove Knausg�rd
De madrugada liga na delegacia pra dizer que est� triste. Atira o edredom pela janela e morre de frio pelo resto da noite. Arrasta os m�veis da sala; os filhos reclamam. Uma vez, depois de dormir no sof� do amigo de um amigo, mijou dentro do revisteiro, enquanto os outros dois bebiam e jogavam futebol de bot�o na cozinha. J� segurou a parede do quarto, achando que a casa fosse cair, e gritou pra mulher correr pro meio da rua. Foi surpreendido de pijama e mochila (cheia de batatas) no posto de gasolina mais pr�ximo. N�o se perdoa por ter dito a um colega de pescaria "voc� n�o passa de uma boneca arrombada". Acredita na manh� como um padeiro. E vive desconfiado como um criminoso.
HIST�RIA
Alguns lugares s�o m�gicos –pequenos apartamentos onde a luz entra de vi�s. Nas ruas n�o h� mendigos nem crian�as famintas, e cada trabalhador acredita que sua profiss�o � a mais importante de todas. (Como os poetas fingem que a poesia � a coisa mais importante do mundo.) Ao descer uma escada: m�sica. Ao subir uma rampa: trilhos de trem. H� cajus pendurados nas portas, como colares havaianos, e t�neis que ligam o sul e o nordeste como janelas de ventila��o cruzada. Livros de hist�ria caem das prateleiras e ficam abertos no ch�o por muitos dias. Ningu�m morde as galochas das mulheres. A pol�cia se veste de branco e s� bate de leve, por amor.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade