Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
M�xico
Passaram 15 dias na Cidade do M�xico, contam, enquanto encho de u�sque um copo com gelo na cozinha da casa da nossa amiga que hoje faz 40 anos. Foram a museus, vernissages, cinemas, livrarias –e a um concerto de m�sica cl�ssica. Mas de todo o relato que me fazem –as comidas, as bebidas, os casais gays se beijando e abra�ando e vivendo num clima de grande liberdade– o que mais me impressiona (o certo seria dizer "o que mais me comove", mas ningu�m vai a festas pra se comover, s� se for louco, solteiro ou pai da noiva) � essa fala do Ivan:
– Muitas vezes, de tarde, sob um sol forte, j� bastante cansados, caminhando pelas ruas do centro no meio daquela confus�o sonora e visual, a gente passava na frente de um bar e l� de dentro vinha alguma can��o de mariachi ou coisa parecida, n�o manjo do assunto, de todo modo uma m�sica vibrante, calorosa, labir�ntica, uma m�sica absurdamente brega, mas mesmo assim, ou por isso mesmo, uma m�sica de cortar o cora��o de qualquer um. E eu n�o conseguia esquecer essa m�sica ouvida na rua por acaso. Um trecho da melodia ou da letra ficava comigo o dia inteiro e me acompanhava a todos os lugares e at� a manh� seguinte. Eu n�o tinha nenhum interesse por m�sica popular mexicana, nenhum preconceito, mas nenhum interesse, e no entanto essa m�sica inesperada e gratuita, absorvida aos peda�os, talvez tenha sido a minha lembran�a inesquec�vel do M�xico.
Guazelli | ||
Depois discutimos Nelson Rodrigues, chegam mais convidados, a sala enche, a festa acontece, vou pegar um chope e, no caminho, converso com outros amigos. Ou melhor, tento conversar, porque as ideias n�o v�m, s� digo obviedades sobre pol�tica e literatura e de repente o papo descamba pra reuni�es de condom�nio.
(N�o sei mais como me comportar em festas, se � que um dia soube. Fico encanado com as pessoas passando atr�s de mim, n�o presto aten��o nas pessoas paradas na minha frente etc. etc. Prefiro bar, mesa, cadeira, poucos amigos, cada um com a sua loucura, protegidos por uma barricada de garrafas.)
� uma da manh� saio sem me despedir, mando um WhatsApp pra aniversariante refazendo nosso pacto de ternura infinita e volto pra casa a p�, escolhendo as ruas mais silenciosas. E quando respiro fundo e me concentro, ou na fra��o de segundo em que desisto de me concentrar –como se a mem�ria fosse minha –, ou�o a m�sica alegre, alegre e tr�gica, dos mariachis.
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