Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Sortidos
Almofada
Voc� n�o acredita na Almofada? A Almofada v� tudo. A Almofada est� te olhando. A Almofada tem sempre um dedo apontado pra voc�. Os dedos da Almofada s�o como armas. Podem acabar com voc� a qualquer momento. Eu gostaria de ter uma arma. Eu gostaria de acabar com voc�. Mas o que eu gostaria mesmo era que voc� acreditasse na Almofada.
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Tatuagem
Estou pensando seriamente em tatuar na barriga, em arco, como a inscri��o de um portal: "PREFIRO CHURRASCO".
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Bares
N�o vendem mais analg�sico e t�m TV ligada.
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P&B
(macaqueando a voz de Humphrey Bogart)
Nosso primeiro ver�o em Nova York. Cinco da tarde de uma ter�a-feira de 1941. Tento fechar um poema antes de voltar pra cama onde, de bru�os, ela se espregui�a -a m�o direita agarrando o parapeito da janela, a esquerda debaixo do travesseiro. O barulho da m�quina de escrever se destaca quando o sil�ncio -trilhos de trem- se completa e a luz filtrada pela persiana diminui. Um golpe de ar mexe as folhas de L'Asphyxie. Levanto e, com a ponta dos p�s, tiro os sapatos -a bunda francesa e a marca de biqu�ni; o cabelo castanho; o pesco�o macio. Um quarto suburbano na cidade atemporal. Sou um detetive de filme noir apaixonado por uma escritora de vanguarda. Acendo um cigarro, abro outra garrafa, trago suas costelas pra junto de mim. Mais tarde vamos ao bairro chin�s.
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Profiss�es
para Fabiano Calixto e Marcelo Montenegro
Manobrista. A�ougueiro. Fruteiro.
Alfaiate. Engraxate. Bicheiro.
Gandula. Chapeleiro. Porteiro.
Vigia. Pedreiro. Faxineiro.
Gari. Jardineiro. Pasteleiro.
Dublador. Marceneiro. Coveiro.
Chapeiro! Chapeiro! Chapeiro!
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Velho
Almo�a e janta sozinho na mesa da sala, de olho na TV; assim que acaba de comer, leva seu prato pra cozinha. Seus gestos s�o certeiros. Seu esp�rito � alegre e tr�gico. Seus fantasmas se dissolveram no ar - s�o como o brilho da poeira � luz do sol. Eu o vejo pela janela aberta, quando passo cantando pela rua com meus 30 e poucos anos infinitos. Como amo esse esqueleto protelado. Como sofro por ele. E como o temo, como o desprezo, como o admiro.
Livraria da Folha
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