![fabrício corsaletti](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513495-115x150-1.jpeg)
Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Paracas
Quando o festival de poesia acabou, pegamos um �nibus pra Paracas, a quatro horas ao sul de Lima, e alugamos um quarto com duas camas de solteiro num hostel perto do mar. No meio da noite acordei pra ir ao banheiro e vi que minha amiga tinha sa�do. No dia seguinte ela disse que n�o conseguiu pregar o olho por causa dos meus roncos e acabou mudando de quarto. Pedi desculpa e fomos conhecer a vila.
Os turistas tiravam fotos de dois pelicanos pousados na mureta da rua principal —a da praia—, onde ficavam as lojinhas de artesanato e de agasalhos de alpaca e os restaurantes. Os pelicanos abriam e fechavam as asas e os bicos enormes, com papadas de desenho animado, mas nunca desciam da mureta nem voavam.
Compramos suvenires pras nossas fam�lias e escolhemos um bar com mesas na cal�ada pra tomar cerveja. Est�vamos os dois cansados de toda aquela conversa e troca de livros e e-mails. O plano era respirar o ar menos intelectual poss�vel e provar pra n�s mesmos que a poesia continuava por a�. Provamos a jallea, uma por��o de peixe frito em iscas coberto por um molho � base de cebola roxa, pimenta, salsinha e milho verde, que a minha amiga apelidou de "fritalhada".
Ilustra��o Guazzelli | ||
![]() |
Uma tarde tentamos escrever um poema a quatro m�os sobre dois poetas pobres que ganham na Mega-Sena, rodam o mundo, compram apartamentos em Paris e em Buenos Aires e fundam uma editora cem por cento engajada na publica��o e divulga��o da poesia mundial –mas desistimos ap�s algumas estrofes.
Dos pontos tur�sticos sugeridos pelo casal de italianos com quem nos encontramos v�rias vezes, visitamos a Reserva Nacional de Paracas e as Islas Ballestas.
A primeira era um deserto com praias de �gua verde-esmeralda e areias coloridas: vermelho-caf�, verde-musgo, amarelo-mostarda. O sol frio e o vento �spero como que ajustavam as cores, tornando-as mais intensas. Dava a sensa��o de que a gente tinha passado tempo demais olhando com filtros pra realidade e ent�o algu�m tivesse jogado as lentes fora. Almo�amos num restaurante constru�do em cima das pedras das margens de um lago. O teto era de palha e mal filtrava a luz do meio-dia. Parecia o �nico restaurante do mundo. Parecia perfeito. E parecia a Gr�cia —a Gr�cia do filme "Mediterr�neo", de Gabriele Salvatores.
De dentro de um barco, navegando ao redor de rochas gigantescas, que emergiam das �guas feito icebergs cor de tijolo molhado, vimos —at� esquecer tudo o que t�nhamos visto antes— milhares de p�ssaros (alguns pinguins entre eles) e centenas de le�es-marinhos. As Islas Ballestas. Os guias dizem que Charles Darwin passou por ali, mas isso n�o diminui em nada a solid�o que voc� sente naquele lugar.
Na �ltima manh� caminhamos por uma praia coberta de algas. Cartas de baralho, cadar�os, um colar dourado, conchas cor-de-rosa. Deixamos tudo l�. Comemos a derradeira fritalhada diante dos pelicanos mercen�rios e subimos pra Lima saudosos do lend�rio bar Cordano, onde gastamos sem culpa o pouco dinheiro que conseguimos vendendo algumas roupas num brech� do centro.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade