Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Personagens
Can��o
Seu cabelo d�i no ar como a lembran�a do filho morto. Os ossos da m�o s�o de marfim, mas nem por isso ela adora os elefantes. Quando fala, tem sempre uma �rvore por perto. No seu olhar resta um pouco do sil�ncio de antes de eu nascer.
Figura
� louco pelo card�pio de almo�o dos botecos, com seus pratos do dia fixos. Segunda, virado � paulista. Ter�a, dobradinha. Quarta, feijoada. Quinta, macarr�o com frango. Sexta, peixe. S�bado, feijoada de novo. (No domingo sofre, trancado num quarto com as janelas fechadas.) N�o que sobreviva � base dessa dieta. Em geral almo�a em casa. Mas gosta de saber que ela existe. Que ao meio-dia de uma segunda-feira, por exemplo, h� milhares de bistecas acompanhadas de arroz, couve, tutu, ovo e torresmo sendo devoradas pela cidade. Diz que d� uma sensa��o de ordem, de seguran�a, de continuidade. De que bem ou mal a coisa funciona. De que estamos juntos e no caminho certo.
Ilustra��o Guazzelli | ||
Cren�a
Minha m�e acredita que pessoas que contam os podres de outras pessoas se tornam, no momento em que os contam, mais podres do que as pessoas que est�o julgando.
— Algumas coisas s�o mais feias na boca de quem diz do que na vida de quem faz.
Ela n�o imagina o quanto devo a essa frase.
Baldinho
N�o usava bolsa nem mochila, mas um balde de ferro, pequeno, desses de deixar sobre a mesa com gelo e cervejas. Levava-o pra toda parte. E dele tirava, quando necess�rio: carteira, �culos escuros, comprimidos pra dor de cabe�a, livros, CDs, chaves, celular, cart�es com dicas de restaurantes, ma��, baralho, moletom. Pelas costas, come�aram a cham�-lo de Baldinho. Quando soube do apelido, numa sexta-feira, se sentiu esquisito e passou o fim de semana como que de luto. Na segunda-feira doou o balde pro porteiro do pr�dio onde vivia com a m�e e comprou numa loja do centro uma mochila preta, comum. Fez quest�o de rever os amigos e os colegas de trabalho. Queria marcar o fim de uma era de solid�o e liberdade traduzidas em exotismo, e o in�cio de uma vida sem confrontos com a moral e os costumes de seu tempo. Mas continuaram a cham�-lo de Baldinho.
Idea
Um poema de Idea Vilari�o (1920-2009), poeta uruguaia, que tem tudo a ver com esses (e outros) tempos. O t�tulo � o primeiro verso, e a tradu��o � minha:
Como aceitar a falta
de seiva
de perfume
de �gua
de ar?
Como?
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