Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Rimbaudelairianas
Pergunta
Nos tornamos adultos quando come�amos a preferir Baudelaire a Rimbaud? N�o.
Tsunami
Um tsunami pode estragar um churrasco. Vem por tr�s do quintal e engole tudo. N�o sobra um copo sobre a mesa. Os amigos gritam enquanto sobem a escada. Algu�m lamenta a festa interrompida.
Mas quando as �guas baixaram as lebres voltaram a recitar sua ora��o ao arco-�ris atrav�s da teia de aranha, e a condessa russa, transformada em ant�lope, correu pelo campo destro�ado –com sua linda camisa azul e a m�o esquerda.
Sopa
No come�o da tarde fiz sopa: uma cenoura, um chuchu, duas batatas, uma batata-doce, um peda�o de ab�bora, um repolho, duas cebolas, seis dentes de alho, cox�o-duro em cubos, um fio de azeite, pimenta-do-reino, dedo-de-mo�a e sal. Deu mais de 20 por��es. Guardei um pouco pra tomar � noite e congelei o resto. Depois escrevi um poema que n�o me agradou, li tr�s contos contempor�neos, um pior que o outro, e respondi e-mails de trabalho. S� ent�o pude abrir a janela, puxar a poltrona pra perto dela, me servir de uma dose de rum sem gelo e olhar livremente as nuvens.
Bondade
Quando voc� era insignificante, eles te tratavam bem. Quando voc� disse "sou livre", eles passaram a te tratar menos bem. Mas, quando viram voc� e a liberdade juntos, eles n�o se aguentaram —e botaram perucas cor-de-rosa e te disseram tudo o que queriam ter dito antes, quando voc� era t�mido e fr�gil e eles tinham medo de te machucar.
Solid�o
Resolve-se, em parte, encontrando a ala certa da Grande Enfermaria.
Dylan
De Bob Dylan posso dizer o mesmo que uma amiga quando perguntavam se ela gostava de "O Poderoso Chef�o":
– N�o � que eu gosto –dizia. – Eu concordo.
Esperan�a
Essa noite, num dos piores pesadelos da minha vida, de que participavam porcos voadores num cinema 3D, um beb� deformado, que era o Dem�nio, uma m�e libidinosa e depois louca, que descobria que tinha outros 30 filhos espalhados pelo mundo e desde ent�o n�o conseguia mais me amar, um pai estranho e depois perdido, que participava de rituais de tortura com inten��es sexuais amb�guas, um amigo traidor, que seduzia minha m�e, mas tamb�m um amigo que tentava me salvar no final (curiosamente o amigo que na vida real eu tra�), estradas perigosas, uma cidade do Rio Grande do Sul cujas casas eram arm�rios de cozinha gigantescos, de onde fugi no carro do meu amigo (sua tentativa de me salvar), correndo da minha m�e, abandonando-a na estrada de terra empoeirada, deslizando pela ladeira de uma das montanhas do planeta, que j� n�o era a Terra, numa caixa de papel�o (ainda o carro do meu amigo), � maneira dos turistas nas dunas de Natal, nesse sonho, minha analista, que quase n�o fala, falou:
– Quem perdeu a esperan�a tem uma �ltima chance de recuper�-la. Essa chance pode vir ou n�o. Mas s� vem uma vez. Depois nunca mais.
Ilustra��o Guazzelli | ||
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