As conclusões de um estudo novo sobre o retorno salarial de diplomas universitários em diferentes carreiras na Inglaterra reforçam a importância de investigar esse tema.
A pesquisa feita pelo reputado Institute for Fiscal Studies (IFS) mostra que há enorme variação nas remunerações de profissionais cinco anos após sua graduação.
Médicos têm ganhos 70% maiores do que o salário médio de todas as carreiras universitárias. Economistas vêm em segundo lugar com retornos 45% acima da média. Matemáticos aparecem em terceiro lugar na lista, com uma vantagem salarial pouco superior a 30%.
Diplomas em áreas como artes criativas, comunicações, sociologia e serviços sociais estão associados a remunerações menores do que a média.
Nada disso surpreende. Estudos anteriores, para a própria Inglaterra e outros países, já indicavam diferenças semelhantes. Até no Brasil, onde o assunto ainda é pouco investigado, as escassas evidências documentadas apontam em direções parecidas.
Mas a pesquisa do IFS não termina aí. Com base em novos dados disponibilizados pelo governo, o instituto investigou outras causas das diferenças de remuneração.
Descobriu que características como nível socioeconômico da família, notas prévias na educação básica, etnia e instituição onde a graduação foi concluída também têm peso significativo nos distintos retornos obtidos.
No caso de medicina, descontados todos esses efeitos, a vantagem salarial em relação à média continua alta, mas cai para 30%.
O estudo tem limitações, como o fato de não capturar isoladamente o impacto de certos traços da personalidade sobre a renda.
Ainda assim, traz pistas e resultados interessantes.
Fica claro que, embora a escolha do curso em si tenha peso grande na determinação dos salários futuros, parte do retorno elevado de certas carreiras se deve à atração de alunos com características que, por algum (ou mais de um) motivo, são valorizadas no mercado de trabalho.
A pesquisa revela ainda que, na Inglaterra, o peso da instituição de ensino é enorme. Há cursos de negócios que —descontados os outros efeitos— trazem ganhos salariais 50% acima da média de todas as carreiras, outros dessa mesma área resultam em remuneração inferior à média.
Investigações desse tipo são relevantes porque podem ajudar a pautar decisões individuais e escolhas de políticas públicas.
Isso não significa que o retorno salarial seja a única variável que entra na equação de quem decide cursar uma faculdade.
A professora de economia da FGV-EESP Fernanda Estevan, que tem pesquisado temas relacionados à educação superior no Brasil —como o impacto de ações afirmativas— ressalta que o investimento em anos extras de educação traz outros benefícios difíceis de mensurar.
O prazer de exercer certa atividade —com suas possíveis consequências sobre o bem estar— é um deles.
Mas a remuneração potencial também importa e pode —ou não– alterar escolhas.
No fim das contas, sempre caberá a cada um decidir com base em suas preferências e possibilidades. Mas escolhas bem informadas provavelmente reduzem o risco de arrependimentos e frustrações futuras. E esse é um ganho que está longe de ser trivial, tanto para os indivíduos quanto para a sociedade.
Outro benefício desse tipo de investigação é apontar caminhos de políticas públicas que fomentem maior igualdade de oportunidades.
A educação é arma crucial contra a desigualdade. Mas, como indica a pesquisa do IFS, sua eficácia nessa direção pode ser reduzida por “punições” ou “prêmios” advindos de fatores como cor da pele ou origem familiar.
“É importante que o nível socioeconômico não seja uma barreira à mobilidade social, reduzindo o acesso a certos cursos ou limitando os ganhos potenciais do investimento em educação”, diz Estevan.
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