De todos os conselhos sábios que ouvi sobre maternidade, seguiria com maior afinco, se pudesse retroceder, os que versam sobre o cuidado com o que se fala na frente das crianças.
Há uns meses, percebi que meu filho maior —8 anos (talvez 7 na época) e normalmente muito falante— andava cabisbaixo. Não demorou muito, surgiu a pergunta: “Mamãe, eu não sou mais criança, né?”.
Fiquei surpresa. Logo ele, tão brincalhão, alegre, grudadinho na gente.
Respondi devolvendo a pergunta: “Por que você acha isso, meu amor?”.
“Agora sou pré-adolescente. Não posso mais brincar."
Ainda mais surpresa, quis saber de onde tinha saído aquela conclusão.
“Você disse isso outro dia, mamãe”, foi a resposta dele.
Pois é. Não demorou cinco segundos para eu me lembrar de que havia feito, sim, aquele comentário para alguém da minha família pelo telefone, ao falar da atitude mais questionadora recente dele.
E agora? Como iria desdizer o que havia, de fato, dito?
Acredito que conversar com as crianças sobre tudo o que for possível —com o cuidado de usar uma linguagem compatível com o repertório deles— os beneficia. Já escrevi sobre isso aqui e aqui.
A capacidade de compreensão deles vai muito além da nossa capacidade de compreender isso.
No interessante, “A vida Secreta da Mente”, Mariano Sigman diz que, antes mesmo de falar, as crianças já têm noções morais. No livro, o neurocientista descreve um experimento em que bebês de nove meses a um ano demonstram antipatia —e até sentimento de vingança— por uma marionete que atrapalha os esforços de outra para pegar um brinquedo.
Se eles fazem conjecturas desde tão pequenos, por que não lhes oferecer sinceridade e informação? É o que sempre pensei.
A nova situação não mudou minha convicção, mas a pintou com outro matiz. Atentei, mais uma vez, para a importância do ajuste fino nessa bela arte que é a criação dos filhos.
Sim, ele está crescendo e mudando. É fato. O que falei refletia minha percepção sobre isso e era sincera. Mas, se soubesse de antemão que meu comentário descuidado na sua frente seria interpretado por ele como o fim —precoce— de sua infância, teria mudado de tom ou até me calado.
No dia desse primeiro questionamento, não consegui desfazer nele essa impressão dramática.
Acho que me saí melhor lá pela terceira vez em que o assunto surgiu.
“Se você não acha isso, por que disse aquilo?", insistiu ele.
“Por que às vezes exageramos nas coisas que dizemos. Você acha que o Benja (o irmão de dois anos) ainda é bebê?”, perguntei a ele.
“Sim."
“Também acho. Mas às vezes digo que ele está um mocinho, né?"
Ele assentiu com o silêncio.
“Às vezes a mamãe também diz brincando que não consegue levar vocês em upa porque está velhinha, né? Mas não sou velhinha ainda, sou?”
Novo assentimento silencioso, enterrando (pelo menos por ora) o tema da adolescência.
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