� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Bem-vindos � era da cria��o coletiva dos filhos
Fiquei um pouco desconcertada quando vi a cena de uma menina sendo estimulada por uma adulta a tocar um artista, tamb�m adulto, nu, em uma exposi��o de artes.
O furor causado pelo tema n�o me permitiu esquec�-lo.
Comecei a me questionar sobre a origem do meu inc�modo quando assisti ao v�deo.
O inusitado da cena? Reprova��o � atitude da respons�vel pela crian�a?
Eu n�o levaria meus filhos em uma exposi��o do tipo enquanto s�o pequenos —meu maior tem oito anos— porque acho que poderia gerar na cabecinha deles uma confus�o dif�cil de ser processada.
Estou na fase de tentar alert�-los sobre o risco da pedofilia. Tenho falado muito, portanto, sobre corpo, intimidade, limites do toque alheio. Seria dif�cil introduzir, neste momento, o conceito de nudez na arte.
Mas ser� essa a situa��o daquela fam�lia?
N�o fa�o a menor ideia. N�o sei a idade da menina, seu n�vel de maturidade, que escola frequenta, onde mora, qual a profiss�o dos seus respons�veis.
Al�m disso, a forma como os pais decidem educar suas crian�as n�o deveria ser da conta de ningu�m.
Tirando a��es contra viol�ncia, n�o vejo por que algu�m interferiria na cria��o dos filhos dos outros, a menos que seja chamado a opinar.
A quest�o � que palpitar sobre a conduta paternal alheia � tipo um hobby. Senti isso na pele antes mesmo de meus filhos nascerem, quando revelei algumas prefer�ncias de nome, ao anunciar planos de engravidar.
Depois, a situa��o se intensificou.
"Voc� j� parou de amamentar? Por qu�?" "Chupeta n�o � bom." "Esse menino n�o est� com calor?" "Voc� n�o deveria ser t�o r�gida com isso ou n�o deveria ser t�o flex�vel com aquilo."
E por a� vai.
N�o � que eu n�o goste do interc�mbio de ideias e conselhos sobre educa��o infantil. Na verdade, adoro. Aprendi e aprendo muito com essa troca.
Mas o bombardeio involunt�rio de opini�es sobre nossa vida pode ser muito inc�modo.
E, conforme as crian�as v�o crescendo, a coisa se agrava porque, n�o raro, os palpiteiros se dirigem diretamente a elas ou na sua frente, sem cerim�nia.
J� ouvi adultos tecendo coment�rios sobre os cabelos um pouco longos do meu filho. Ele � extrovertido, mas interven��es desse tipo o deixam acanhado.
Conclu�, ent�o, que a maior causa do meu desconforto ao assistir ao v�deo foi imaginar como aquela menina deve ter se sentido constrangida ao se ver exposta daquele jeito nas redes sociais.
Por mais que se acredite que o toque da crian�a no artista nu seja inusitado ou inapropriado, o foco de indigna��o deveria ser o vazamento de imagens desse tipo, que ferem o direito de prote��o da imagem infantil.
Mas, no mundo do compartilhamento intenso das redes, n�o temos visto muito espa�o para esse tipo de preocupa��o. Parece que estamos entrando numa era de potencial educa��o coletiva dos nossos filhos.
Quem n�o quiser embarcar nisso e preferir proteger sua prole deve ter aten��o redobrada aos riscos m�ltiplos e crescentes de exposi��o.
Hoje, foi a m�e no museu. Amanh�, pode ser voc� deixando escapar um grito com seu filho no parque.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade