� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Aprender ingl�s ser� desnecess�rio no futuro?
Jeff Baenen/Associated Press | ||
Executivo da Three Square Market tem microchip instalado; dispositivo abre portas e acessa computador |
Meu marido, que adora um debate pol�mico, outro dia me instigou a pensar no seguinte: ser� que o investimento que fazemos hoje em curso de ingl�s para nossos filhos ter� o mesmo retorno que teve no passado?
� prov�vel que antes do que possamos imaginar, disse ele, a intelig�ncia artificial permita a tradu��o simult�nea de qualquer conversa, filme, palestra, ou a codifica��o da nossa pr�pria fala para outro idioma.
N�o era uma sugest�o para tirarmos nossos meninos das aulas extras de ingl�s, mas uma provoca��o para me fazer pensar num tema pelo qual tenho me interessado —e j� abordei aqui—, que � o futuro das crian�as nesse mundo de r�pida transforma��o tecnol�gica.
Fiquei at� arrepiada s� de imaginar a cena: meus filhos crescidos, andando por a� com um chip instalado na cabe�a ou acompanhados por um rob�.
Isso pode acontecer? N�o fa�o a menor ideia. Com base no que tenho lido, n�o duvidaria.
H� poucos dias, o rep�rter Ricardo Senra, da BBC Brasil, fez uma entrevista com o presidente-executivo de uma empresa de tecnologia de Wisconsin, nos EUA, que est� implantando chips que eliminam a necessidade de crach�s e senhas em computadores nas m�os de funcion�rios.
Estudos listam a fun��o de tradutor como uma das ocupa��es qualificadas que podem desaparecer.
Juntando essas duas informa��es, o chip instalado na cabe�a ganha menos ares de fic��o cient�fica.
Mas ser� que a tecnologia ser� capaz de reproduzir a entona��o e a emo��o expressas na nossa fala em uma conversa traduzida?
� natural que esse tipo de questionamento cause desconforto entre pais, profissionais e empres�rios que n�o t�m certeza sobre que tipo de qualifica��o ser� necess�ria num futuro incerto, cheio de possibilidades.
Pesquisas de inova��o ocorrem de forma descentralizada pelo mundo. Ningu�m sabe todas as tarefas que poder�o ser substitu�das por m�quinas e que novas profiss�es est�o por surgir.
H�, por�m, pistas bem informadas sobre habilidades que ser�o �teis para navegar no mundo das nuvens, da automa��o e da intelig�ncia artificial.
Prestar aten��o ao que tem sido produzido nesse sentido pode ajudar a orientar investimentos dom�sticos, empresariais e p�blicos e a diminuir a ansiedade.
Um dos pontos que v�m sendo enfatizado por pesquisadores e empregadores � a import�ncia das chamadas habilidades socioemocionais.
Rob�s podem substituir humanos em tarefas especificas, mas n�o devem —pelo menos no futuro pr�ximo— eliminar a intera��o entre as pessoas.
Pelo contr�rio. Com processos mais r�pidos, a habilidade de se comunicar com prontid�o, fluidez e clareza ser� cada vez mais exigida dos profissionais.
Outras habilidades socioemocionais que ser�o crescentemente demandadas s�o responsabilidade, concentra��o e capacidade de administrar o pr�prio tempo, me dizia na semana passada a economista Laura Ripani, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
"Todos precisar�o ser, em alguma medida, empreendedores", afirmou ela.
Ela ilustrou a coloca��o com o seguinte exemplo: a expectativa � que o trabalho remoto, feito de casa, em contratos de "freelancer", aumente bastante. Profissionais nesse modelo de trabalho precisar�o ter capacidade enorme de autogest�o.
Outro ponto que tem sido muito enfatizado � o fato de que habilidades digitais ser�o exigidas cada vez mais. A tend�ncia pode soar �bvia, mas o que est� inclu�do nesse guarda-chuva?
Segundo artigo recente de Ripani e sua coautora Carm�n Pag�s, ser� esperado que os profissionais consigam administrar suas redes de contatos com uma "inclina��o" para os neg�cios e a extrair informa��o relevante no vasto universo de dados dispon�veis na internet.
Conhecimentos de programa��o tamb�m tender�o a ser valorizados.
E, em terceiro lugar, embora de forma alguma menos importante: � muito prov�vel que as pessoas precisem adquirir novos conhecimentos ao longo de sua vida laboral com frequ�ncia muito maior do que no passado e no presente.
Se o avan�o tecnol�gico se tornar disruptivo a ponto de eliminar constantemente postos de trabalho, � poss�vel que esse processo de reciclagem profissional quase permanente tenha de ser feito tamb�m durante momentos de desemprego.
Com isso, governos ser�o pressionados a aumentar sua rede de prote��o social com foco no treinamento de adultos e — dados os altos custos desse tipo de pol�tica— a firmar parcerias com o setor privado.
Esses pontos permanecem pouco debatidos no Brasil. Suspeito que isso se deva ao nosso relativo atraso tecnol�gico e � recess�o severa dos �ltimos anos.
Se o crescimento, que desponta aos poucos, voltar de fato e conseguirmos ir eliminando o atraso brutal que acumulamos, a discuss�o sobre o futuro do emprego e das habilidades necess�rias para ter uma ocupa��o tende a ganhar for�a por aqui tamb�m.
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