� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Como desenvolver no seu filho habilidades que voc� n�o tem
Raquel Cunha - 10.set.2014/Folhapress | ||
Pais e filhos brincam com jogo educativo em SP |
Certa vez, uma reuni�o rotineira na escola sobre nosso filho nos incomodou.
A coordenadora pedag�gica falou de como ele estava bem adaptado, de como se dava bem com os amigos, era carinhoso, solid�rio, curioso e sempre muito alegre.
Mas uma quest�o que merecia alguma aten��o em rela��o a ele, disse sem tom alarmante, era certa dispers�o e dificuldade para se organizar.
Pedimos exemplos. Ela explicou que ele se esquecia com frequ�ncia de pequenos combinados —como tirar a lancheira da mochila ao chegar e guardar brinquedos ap�s utiliz�-los— e que n�o conseguia dispor suas comidinhas de forma ordenada sobre a mesa na hora de comer.
Explicamos que �ramos desorganizados (principalmente eu, para ser mais honesta) e que ele provavelmente tinha herdado isso —por gen�tica, observa��o ou uma combina��o de ambos.
Ela perguntou educadamente se a desorganiza��o nos atrapalhava. Respondi que era ruim, sim —�s vezes, muito—, e tamb�m vinha batalhando para melhorar, mas tanto meu marido como eu apontamos que o ach�vamos muito pequeno para ser alvo desse tipo de preocupa��o.
Ela finalizou dizendo que, com certeza, n�o era nada s�rio, mas que, quanto mais cedo ele percebesse os benef�cios da organiza��o, maiores seriam as chances de que ele desenvolvesse bem essa habilidade.
Sa�mos de l� achando aquilo um tanto exagerado. Ele tinha quatro, cinco anos. Naquele momento, ach�vamos que o mais importante era que fosse feliz, aprendesse a socializar e a respeitar os outros.
Continuo sem saber o quanto —e se— era uma quest�o precoce. Mas, hoje, n�o tenho d�vidas de que � algo importante para ter em conta na inf�ncia, sim.
Essa convic��o veio de algumas experi�ncias posteriores ao epis�dio.
Acabei desenvolvendo um grande interesse por pesquisas que mostram o enorme impacto de habilidades desse tipo na vida de crian�as e adultos (alunos com maior autogest�o tendem a ter melhor desempenho acad�mico, principalmente em matem�tica, para ficar em um exemplo).
Como m�e, passei a notar como a dificuldade de ter foco, em certos momentos, prejudica a crian�a. A rotina —desde que n�o sufoque e deixe espa�o para a brincadeira livre— gera seguran�a e acalma. N�o conseguir realizar uma tarefa com concentra��o e certa ordem, por outro lado, causa frustra��o e alimenta a ansiedade.
Al�m disso, como adulta com responsabilidades e tarefas que s� aumentavam, a dificuldade de organiza��o come�ou a me cobrar uma fatura cada vez mais pesada.
Eu achava que o caos era parte do meu processo criativo, e sempre conseguia cumprir bem minhas tarefas, ainda que isso implicasse virar umas madrugadas aqui e ali.
Com os filhos, tudo mudou por raz�es que s�o in�meras e provavelmente �bvias, e o custo desse modo de opera��o foi ficando elevad�ssimo.
Depois de tentar v�rias estrat�gias e algumas surtirem efeito, sinto que melhorei. Mas criar h�bitos novos na vida adulta � um exerc�cio di�rio que requer muito esfor�o e consome muita energia.
Por tudo isso, passei a desejar que meus filhos desenvolvam essa capacidade cedo.
Felicidade —esse sentimento dif�cil de explicar, mas f�cil de reconhecer— � importante, claro. Mas, como me disse uma amiga outro dia, tem crian�a que acaba ficando tonta em busca da felicidade.
Claro que desejamos que nossos filhos sejam felizes. Mas o que isso significa? Conseguir fazer escolhas e tra�ar objetivos? Se for isso, eles precisam de instrumentos para persegui-los, o que passa por controlar impulsos e cumprir responsabilidades. � dif�cil ser feliz sem ser funcional.
Ajudar seus filhos a desenvolver habilidades que em voc� s�o escassas � um desafio e tanto. Como me falou h� uns meses o psic�logo Ricardo Primi, especializado em habilidades socioemocionais, n�o h� uma receita pronta e f�cil para isso.
Pode-se tentar trilhar o caminho com eles e mudar tamb�m —servindo de modelo— ou criar o contexto e tentar fornecer mecanismos para que eles as desenvolvam sozinhos, disse-me Primi, que � professor da Universidade S�o Francisco e pesquisador do eduLab21, centro de inova��o para a educa��o do Instituto Ayrton Senna.
Um primeiro passo � se dar conta de que todos podem come�ar a adquirir certas caracter�sticas desde pequenos. Claro que algumas crian�as continuar�o mais criativas, outras ser�o mais num�ricas, mas uma boa dose de empatia, persist�ncia, organiza��o e curiosidade ser� �til para todas elas.
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