� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Avan�o educacional no Brasil citado pela OCDE n�o convence
John Vizcaino - 30.set.2015/Reuters | ||
Estudantes em escola na Col�mbia; pa�s tem conseguido progressos mais r�pidos no Pisa que o Brasil |
H� alguns dias, queria pesquisar sobre reforma educacional e entrei na p�gina do Pisa, exame internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico).
De cara, vi uma chamada para um v�deo justamente com o t�tulo: "How Does Pisa Shape Education Reform?".
Olhei a legenda e me surpreendi ao ler que os dois exemplos de pa�ses que foram capazes de "melhorar seu desempenho no teste e fazer seus sistemas educacionais mais inclusivos" citados eram Alemanha e Brasil.
Acostumada a escrever e ler exaustivamente sobre o fiasco da aprendizagem brasileira, achei interessante que justo nosso pa�s pudesse ser mencionado como uma hist�ria positiva.
O esp�rito do v�deo, bem curto, � ressaltar que, ao revelar o que diferentes pa�ses t�m atingido em termos de educa��o, o Pisa os estimula a ir atr�s dos bons exemplos.
O exame � aplicado a cada tr�s anos tanto em pa�ses membros da OCDE (os desenvolvidos e alguns emergentes como M�xico e Chile) quanto em na��es parceiras (caso do Brasil) e busca avaliar a aprendizagem de alunos de 15 anos em matem�tica, leitura e ci�ncias.
brasil atr�s da col�mbia - Pontua��o em matem�tica no Pisa
No caso da Alemanha, o v�deo destaca que a primeira edi��o do Pisa, em 2000, mostrou um desempenho fraco e desigual —considerando os estudantes mais e menos favorecidos— do pa�s em leitura na compara��o com a m�dia da OCDE.
Apontando em seguida que, em resposta, pol�ticas especificas para mudar o quadro foram adotadas: escolas em tempo integral viraram norma; obriga��es foram estipuladas; professores receberam incentivos para investir em seu desenvolvimento.
Resultado: o sistema se tornou mais igualit�rio e a Alemanha avan�ou de um patamar abaixo da m�dia da OCDE em leitura para um n�vel superior a esse recorte.
"A meio mundo de dist�ncia", diz ent�o o v�deo, o Brasil foi o pa�s com a nota mais baixa na edi��o do Pisa de 2003.
Em seguida, menciona que mais da metade dos alunos brasileiros teve desempenho inferior ou igual � marca considerada como o mais baixo n�vel de profici�ncia em matem�tica, disciplina que foi o foco do exame naquele ano.
Acrescenta, ent�o, que o pa�s estipulou a meta de atingir a m�dia da OCDE em 2021. Mas n�o menciona politicas especificas adotadas.
Apenas diz que, desde ent�o, os alunos brasileiros com pior desempenho avan�aram o equivalente a um ano letivo de aprendizagem, mesmo em um contexto de forte inclus�o educacional.
O v�deo afirma ainda que o Brasil ainda precisa avan�ar muito, mas que se baseia em par�metros internacionais.
O que eu tinha na mem�ria sobre nossa trajet�ria no Pisa era que avan�amos muito pouco em leitura e ci�ncias e que demos um salto em matem�tica —de um patamar catastr�fico para outro p�ssimo—, mas que parte desse progresso foi devolvido nos �ltimos tr�s anos.
Depois de ver o v�deo, deu vontade olhar os dados. Eu pensava: o Brasil � um dos pa�ses com desempenho mais baixo, mas j� foi o pior! E, realmente, em 2003, entre os 40 pa�ses testados, a nota brasileira em matem�tica ficou em �ltimo lugar, atr�s da obtida pelos alunos da Tun�sia.
E em 2015? Bem, h� dois anos, cinco pa�ses tiveram desempenho mais baixo que o do Brasil na disciplina. Mas a amostra se expandiu significativamente desde 2003. Em 2015, 73 na��es foram testadas e, entre as cinco piores que o Brasil, apenas a Tun�sia havia participado da edi��o de 2003.
Ou seja, nesses 12 anos, alguns poucos pa�ses ou territ�rios com desempenho mais sofr�vel que o nosso entraram na lista, e o Brasil s� conseguiu ultrapassar a Tun�sia.
Mas tinha outra quest�o mencionada pelo v�deo da OCDE: os alunos brasileiros com pior desempenho conseguiram progredir.
A organiza��o separa as notas dos alunos em sete n�veis de profici�ncia, que v�o de "abaixo de 1" (o pior poss�vel) a 6.
Entre 2003 e 2015, o percentual de estudantes do Brasil no patamar mais catastr�fico diminuiu de 53,3% para 43,7%.
Trata-se de uma redu��o importante principalmente por ser reflexo de uma melhora no n�vel de aprendizagem dos alunos com menor n�vel socioecon�mico.
Mas � inevit�vel perguntar: dada a gravidade do nosso problema, ser� que n�o dever�amos estar avan�ando ainda mais rapidamente?
O n�vel 2 de profici�ncia � considerado o m�nimo necess�rio para o exerc�cio da cidadania e espantosos 70,3% dos alunos brasileiros ainda est�o abaixo desse patamar em matem�tica.
Desde 2003, o pa�s conseguiu uma redu��o de 4,9 pontos percentuais nessa taxa, menos do que as quedas atingidas por Peru (-8,4) e Indon�sia (-7) em apenas tr�s anos, entre 2012 e 2015 (partindo de n�veis parecidos com o nosso).
Restava um ponto tamb�m relevante. O Brasil conseguiu pequenos avan�os em um contexto de forte inclus�o educacional, que poderia ter levado a pioras nos nossos resultados.
Fato, mas n�o somos os �nicos. A Col�mbia, por exemplo, tem conseguido progressos mais r�pidos que os nossos —partindo de patamares pr�ximos— tamb�m em meio a grande expans�o da cobertura escolar.
Os resultados do pa�s vizinho est�o longe de ser uma maravilha. Mas, em 2015, a Col�mbia nos ultrapassou em leitura, ci�ncias e matem�tica. Tamb�m conseguiu reduzir a taxa de baix�ssima profici�ncia um pouco mais do que o Brasil.
Talvez um prop�sito do v�deo da OCDE seja ressaltar que tanto na��es desenvolvidas quanto as menos ricas podem progredir. S� n�o me convenci de que o Brasil era um bom exemplo do segundo grupo.
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