� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Precisamos formar alunos para profiss�es que ainda nem existem
Seis em cada dez alunos do ensino fundamental no munic�pio de S�o Paulo acreditam que trabalhos em grupo, debates e o uso de tecnologia pelo professor facilitam a aprendizagem.
Os dados revelados em reportagem do jornalista Paulo Salda�a nesta Folha mostram que os estudantes brasileiros est�o de alguma forma antenados com o que ser� esperado deles no mercado de trabalho.
Segundo uma nota recente do FMI sobre educa��o, assinada por Nagwa Riad, a gera��o nascida entre 1980 e 2000 —mesmo os que j� est�o empregados— enfrentar� mudan�as constantes e profundas em seu universo profissional.
O documento ressalta que isso "significa que muitos, se n�o a maioria, precisar�o se 'reequipar' e aprender novas habilidades diversas vezes durante sua vida laboral".
Outros especialistas e pesquisas apontam na mesma dire��o.
Um estudo do F�rum Econ�mico Mundial sobre o futuro do trabalho, publicado em 2016, cita uma estimativa de Karl Fisch e Scott McLeod segundo a qual 65% dos alunos que iniciam a educa��o prim�ria trabalhar�o em ocupa��es hoje inexistentes.
Por isso os estudantes paulistanos est�o certos em querer maior intera��o com colegas e a aplica��o da tecnologia como apoio pedag�gico.
S�o ferramentas que aumentam a atratividade do conte�do escolar, claro, mas que, al�m disso, ser�o essenciais para a necessidade de frequente reciclagem ao qual ser�o expostos no futuro.
Uma pista de como isso ocorrer� est� na lista de dez habilidades que ser�o mais valorizadas em 2020 em compara��o com as mais buscadas em 2015.
Segundo profissionais de RH de dezenas de pa�ses —incluindo o Brasil— ouvidos pelo F�rum, a criatividade, que estava no p� da lista de 2015, ser� a terceira caracter�stica mais importante para o candidato a uma vaga daqui a tr�s anos. A tecnologia � aplicada de forma crescente em processos criativos das mais diversas �reas.
Intelig�ncia emocional —capacidade de se relacionar bem com os outros, de superar problemas e de persistir em desafios— que nem aparecia no ranking de dois anos atr�s surge em sexto lugar no de 2020.
Novos tempos - Emprego no futuro exigir� mais intelig�ncia emocional e criatividade
A� surgem perguntas como: fala-se tanto agora dessas habilidades n�o cognitivas, de sua import�ncia, de como empregadores dar�o enorme valor a elas, isso significa que a forma��o nas disciplinas tradicionais perder� valor?
N�o, dizem os entendidos. O mercado continuar� � busca de indiv�duos que dominem muito bem o b�sico, a matem�tica, o racioc�nio l�gico, as ci�ncias, a l�ngua.
Uma evid�ncia disso � que resolu��o de problemas complexos aparece no topo da lista de habilidades mais demandadas em 2015 e n�o � desbancada por nenhuma outra em 2020.
Tanto o FMI quanto o F�rum ressaltam que as profiss�es ligadas a ci�ncia, tecnologia, engenharia e matem�tica - classificados em ingl�s como "Stem" - continuar�o a prosperar.
A diferen�a em rela��o ao passado � que haver� menos espa�o para o profissional genial com n�meros que n�o gosta muito de conversa e passa a maior do tempo isolado.
Um trabalho muito interessante do economista David Deming, de Harvard, analisou o crescimento das profiss�es - tanto em termos de vagas quanto de remunera��o - considerando o grau de "habilidades sociais" exigido nas mesmas.
O pesquisador concluiu que cargos que exigem muita matem�tica, mas baixa intera��o com pessoas, est�o em decl�nio no mercado norte-americano. Mas os que exigem muita matem�tica combinada com grande interface social est�o em alta.
Um exemplo: ser� cada vez mais esperado que programadores de computa��o interajam com clientes para entender suas necessidades especificas.
A ado��o de estruturas menos verticais nas empresas tamb�m � outra mudan�a que ter� impacto nas habilidades exigidas dos profissionais.
Cargos intermedi�rios como gerentes administrativos devem ser drasticamente reduzidos. Uma s�rie de reportagens que fiz com as jornalistas Mariana Carneiro e Ingrid Fagundez em 2014 mostrava que isso j� come�ava a ocorrer no Brasil.
Essa tend�ncia, diz o F�rum Econ�mico Mundial, vai exigir mais comunica��o direta entre funcion�rios em n�veis hier�rquicos mais baixos e chefes em cargos importantes que talvez antes nem se encontrassem.
Ou seja, as pessoas v�o precisar falar bem, se expor bem, se comunicar bem, com p�blicos diferentes. Isso valer� para empregados e chefes.
Todas essas mudan�as significam que a escola e os formuladores de pol�ticas educacionais precisam pensar em conte�dos e estrat�gias pedag�gicas que olhem mais para o futuro. Ouvir os alunos —como parece estar fazendo o munic�pio de S�o Paulo —� essencial.
Estar antenado com o mundo empresarial e acad�mico para entender o que vem pela frente tamb�m. Escolas, empresas e academia ainda s�o separadas por enormes muros que n�o beneficiam ningu�m.
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