� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Mesmo com mais educa��o, mulheres ainda ganham menos do que homens
"Eu tinha muita credibilidade junto a meu chefe at� engravidar. Isso mudou completamente quando meu filho nasceu. Ele tem a mentalidade de que o funcion�rio bom tem de estar presente o tempo todo no escrit�rio."
"N�s somos malvistas pela meia hora que paramos para ordenhar, mas as pessoas que saem para fumar, n�o."
"Antes de engravidar, ouvia relatos de que as mulheres que voltavam de licen�a eram submetidas a testes velados de comprometimento com o trabalho, como viagens longas mesmo amamentando. Comecei a ficar mais atenta depois que engravidei e percebi que aquilo era mesmo realidade."
"Meu marido � muito comprometido com a cria��o dos nossos filhos. Mas ele faz menos do que eu porque encontra mais barreiras. Eu falo com minha chefe pelo telefone com as crian�as fazendo barulho no fundo. Ele n�o. Para ele, � mais dif�cil dizer que precisa levar o filho ao pediatra. � como se ele n�o tivesse esse direito."
"Estou feliz profissionalmente, sou bem-sucedida, mas, sem d�vida, ganho menos do que os homens na mesma posi��o que eu."
"A empresa onde trabalho estimula a participa��o feminina na gest�o. Mas n�o me interessaria de novo por um cargo de chefia. Teria de abrir m�o de muita coisa da vida da minha filha para ganhar muito pouco em troca."
Esses s�o trechos dos depoimentos de algumas mulheres que colhi no �ltimo m�s, ao fazer uma reportagem sobre as diferen�as salariais entre homens e mulheres, publicada pela Folha no domingo (14).
Preservo a identidade das entrevistadas —profissionais de diferentes setores, entre 30 e 40 anos, que tiveram filhos h� pouco tempo— por se tratar de um tema sens�vel.
Suas declara��es s�o evid�ncias aned�ticas do que sabemos por experi�ncia pr�pria, de pessoas pr�ximas ou por intui��o: a igualdade entre os g�neros ainda � uma realidade distante do mercado de trabalho.
Houve avan�os ineg�veis. Mas barreiras, que precisam ser mais bem compreendidas, persistem.
As pesquisas que buscam elucidar diversas dessas quest�es s�o recentes. Elas come�am a ser viabilizadas com o amadurecimento de bancos de dados do mercado de trabalho que permitem o acompanhamento das pessoas ao longo de suas vidas profissionais.
O que j� sabemos?
Sabemos que as mulheres aumentaram significativamente sua escolaridade —no Brasil, desde o in�cio da d�cada passada, elas contabilizam, em m�dia, mais anos de estudo do que os homens.
Sabemos que, paralelamente, a participa��o feminina no mercado de trabalho avan�ou muito. Apenas 44,4% das mulheres nascidas entre 1953 e 1957 no Brasil trabalhavam ou buscavam uma ocupa��o quando atingiram entre 25 e 29 anos.
Para a gera��o feminina nascida entre 1978 e 1982, esse percentual —tamb�m entre 25 e 29 anos— era de 69,9%.
Sabemos que a dist�ncia entre os sal�rios dos homens e das mulheres era muito maior na �poca dos nossos av�s. Ela vem caindo de gera��o para gera��o, embora essa tend�ncia rumo � equipara��o esteja se tornando mais lenta.
Descobrimos ainda que, quando se trata de uma mesma gera��o, as mulheres t�m estreado no mercado com remunera��o parecida— em alguns casos id�ntica— � dos homens. Mas que, uma d�cada depois do in�cio da vida profissional, a diferen�a salarial, a favor dos homens, se torna substancial.
H� indica��es bem amparadas por dados de que o aumento desse hiato nos sal�rios est� bastante associado � fertilidade; que o crescimento da diferen�a entre as remunera��es � muito maior entre homens e mulheres mais qualificados do que entre os profissionais com pouca escolaridade. Os sal�rios dos maridos parecem influenciar na probabilidade de que as mulheres parem de trabalhar.
Pesquisadores t�m mostrado ainda que mesmo as mulheres sem filhos, se forem casadas, ganham relativamente menos do que os homens e do que outras mulheres solteiras (mesmo com escolaridade e outras carater�sticas id�nticas).
O que precisamos entender melhor?
Falta melhor compreens�o sobre como discrimina��o e escolhas individuais —de mulheres e fam�lias— interagem.
Sabemos que o preconceito de empregadores contra as mulheres existe, ainda que tenha diminu�do. Algumas empresas j� discutem a poss�vel exist�ncia do que chamam de "vi�s de sele��o" na hora de decidir promo��es a n�veis hier�rquicos mais altos.
Sabemos tamb�m que muitas mulheres ainda interrompem a carreira ou escolhem posi��es que lhes demandam menos para cuidar dos filhos.
Mas o que � causa e o que � efeito? Ser� que as mulheres tomariam decis�es diferentes se n�o sentissem —como foi o caso de uma das entrevistadas que cito acima— que a maternidade as levariam a passar por "testes de resist�ncia" injustific�veis no trabalho?
Ser� que, se seus maridos n�o fossem "malvistos", como disse outra entrevistada, por tentar exercer um papel mais ativo na cria��o dos filhos, as escolhas femininas seriam diferentes?
Ser� que, se as empresas aumentassem a oferta de desenhos mais flex�veis de jornada de trabalho —como a possibilidade de trabalhar horas n�o cont�nuas e passar mais tempo em casa, tanto para mulheres quanto para homens—, a produtividade dos funcion�rios n�o aumentaria?
S�o algumas das quest�es que demandam mais pesquisas, mais entrevistas, mais aten��o, mas pol�ticas espec�ficas das empresas, se quisermos que a diversidade no mercado de trabalho continue aumentando.
Aumentar a escolaridade das mulheres tem sido importante, mas claramente n�o basta.
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