� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Cada d�lar investido na pr�-escola pode se multiplicar por sete
Raquel Cunha - 27.jul.15/Folhapress | ||
Crian�as em creche em SP; investimento em educa��o infantil aumenta empregabilidade futura |
O investimento em pr�-escolas p�blicas de qualidade traz ganhos enormes n�o apenas para as crian�as de baixa renda atendidas e suas fam�lias mas para a sociedade como um todo.
� o que tem mostrado, incansavelmente, o americano James Heckman, Pr�mio Nobel de Economia em 2000, com pesquisas realizadas ao longo da �ltima d�cada.
Em um estudo recente, o economista fez uma an�lise minuciosa dos retornos de dois programas de educa��o infantil adotados nos Estados Unidos na d�cada de 1970, o Carolina Abecedarian Project (ABC) e o Carolina Approach to Responsive Education (Care).
Ele e seus tr�s coautores conclu�ram que cada d�lar investido nos dois projetos gerou US$ 7,3 em benef�cios que inclu�ram desde a maior empregabilidade —e, portanto, menor depend�ncia de servi�os sociais— dos benefici�rios j� na vida adulta at� seu menor envolvimento com crimes.
As meninas atendidas aumentaram em 13 pontos percentuais sua probabilidade de terminar uma gradua��o quando comparadas a outras garotas de origem familiar parecida que n�o participaram do programa. A chance de estar empregados aos 30 anos aumentou entre 11 e 19 pontos percentuais no caso dos meninos beneficiados.
Em ambos os grupos, fatores como menor envolvimento com drogas e melhores indicadores de sa�de tamb�m foram identificados.
Embora envolva a realiza��o de c�lculos e estimativas complexos, esse tipo de an�lise tem se tornado vi�vel em pa�ses onde � comum que beneficiados por projetos sociais sejam acompanhados ao longo de sua vida.
Os registros servem de insumo para que pesquisadores como Heckman se debrucem sobre os dados e cheguem a conclus�es �teis do ponto de vista de pol�tica p�blica e, algumas vezes, at� surpreendentes.
O pr�prio Nobel de Economia descobriu que outro projeto, criado na d�cada de 1960, em Michigan, atirou no que viu e acertou no que n�o viu.
O chamado Perry Preschool tinha como meta principal aumentar o QI das crian�as socialmente vulner�veis atendidas. Para a frustra��o de seus idealizadores, isso at� aconteceu num primeiro momento, mas poucos anos depois n�o eram mais encontradas diferen�as significativas no coeficiente de intelig�ncia das crian�as participantes quando comparadas a outras, vindas de contextos parecidos, que tinham ficado de fora do Perry.
Apesar disso, quando cresceram, as meninas e os meninos participantes come�aram a exibir indicadores impressionantes de sucesso tanto escolar quanto pessoal e profissional em rela��o aos demais.
Heckman descobriu que os efeitos positivos do Perry vinham de tra�os de personalidade que o programa ajudou as crian�as a desenvolver, como curiosidade, autocontrole e facilidade de relacionamento com os demais.
Essas habilidades, normalmente chamadas de socioemocionais, tamb�m s�o trabalhadas no ABC e no Care, que buscam estimular a resolu��o de conflitos entre as crian�as e sua capacidade de tomar decis�es.
Achados acad�micos nem sempre conversam com a realidade cotidiana, as dificuldades e as barreiras que formuladores de pol�ticas p�blicas e educadores encontram no dia a dia.
Contextos culturais, sociais e econ�micos diversos tamb�m podem dificultar a replica��o de experi�ncias bem-sucedidas.
Mas isso n�o significa que pistas e conclus�es de pesquisas como as de Heckman n�o devam ajudar a nortear decis�es.
No Brasil, em meio ao limite imposto � expans�o dos gastos do governo nos pr�ximos anos, talvez seja necess�rio repensar prioridades.
Nossos investimentos p�blicos no ensino superior ainda s�o quase o dobro do que na educa��o infantil (como propor��o do Produto Interno Bruto). Embora decrescente ao longo da �ltima d�cada, a diferen�a de gasto por aluno no ensino universit�rio ainda � 3,7 vezes maior do que por crian�a na pr�-escola.
Ser� que esse � o caminho?
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