� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Pior recess�o da hist�ria trar� preju�zo permanente para alguns jovens
Joel Silva - 10.nov.15/Folhapress | ||
Fila de desempregados em busca de vagas no Vale do Anhagaba� |
O Brasil parece estar finalmente saindo da profunda recess�o na qual mergulhou em 2014, confirmada pelo IBGE, nesta ter�a-feira, como a pior da nossa hist�ria. Dados do primeiro trimestre indicam um poss�vel in�cio de retomada.
Mas o mercado de trabalho —que reage com atraso a mudan�as no rumo da atividade— dever� come�ar a se recuperar apenas no segundo semestre deste ano.
Com a crise, a taxa de desemprego brasileira passou de 6,2%, no fim de 2013, para 12,6%, no trimestre encerrado em janeiro deste ano.
Saltos dessa magnitude num espa�o t�o curto de tempo s�o raros e podem ter efeitos persistentes nas vidas dos trabalhadores afetados.
Um n�mero crescente de pesquisadores tem se dedicado a investigar, por exemplo, o que ocorre com os jovens que se formam durante recess�es. As conclus�es n�o s�o animadoras.
Esses estudos mostram que as perdas de renda acarretadas por desemprego ou ocupa��es de pior qualidade no in�cio da carreira podem ser duradouras, quando n�o eternas.
Em um trabalho premiado, a economista Lisa Kahn, da Universidade Yale, analisou a evolu��o das carreiras de homens brancos que se formaram antes, durante e depois da recess�o americana do in�cio dos anos 1980 ao longo de quase duas d�cadas.
Concluiu que os jovens que tiveram suas gradua��es durante os anos de contra��o econ�mica amargaram rendas persistentemente menores que os demais.
Ou seja, segundo Kahn, que foi conselheira do ex-presidente Barack Obama, as carreiras de quem termina a universidade em meio a uma recess�o podem ser prejudicadas para sempre.
Os pesquisadores Philip Oreopoulos, Andrew Heisz e Till von Wacther analisaram os efeitos das recess�es sobre a renda de graduandos canadenses entre 1982 e 1999.
Eles tamb�m encontraram perdas significativas de renda, que desapareceram apenas depois de oito a dez anos. Ap�s esse per�odo, os jovens trabalhadores conseguiram atingir os sal�rios que receberiam, na mesma etapa de suas carreiras, caso suas formaturas n�o tivessem ocorrido em plena recess�o.
Embora menos dram�ticos que a conclus�o de Kahn, esses resultados tamb�m contrariam a hip�tese de alguns economistas neocl�ssicos para quem os efeitos salariais negativos de recess�es seriam rapidamente corrigidos por mercados de trabalho eficientes t�o logo a economia voltasse a crescer.
Al�m disso, Oreopoulos, Heisz e von Wacther descobriram que, para jovens graduados em profiss�es menos valorizadas, as perdas de renda provocadas por uma formatura em tempos de contra��o econ�mica s�o permanentes.
Estudos desse tipo s�o importantes porque ajudam a orientar os formuladores de pol�ticas p�blicas. � poss�vel que fique evidente a necessidade de medidas para amparar grupos de jovens mais vulner�veis e evitar um aumento da desigualdade de renda ou talvez para aumentar a flexibilidade no mercado de trabalho, facilitando sua contrata��o por empresas que pagam melhores sal�rios ap�s a retomada da economia.
Essas pesquisas podem contribuir tamb�m para escolhas individuais. Kahn ressalta que, � luz de suas descobertas, talvez a melhor decis�o para alguns jovens seja postergar suas formaturas.
Segundo a economista, a perda salarial acumulada decorrente de adiar a entrada no mercado de trabalho pode ser menor do que o preju�zo permanente de se formar numa recess�o. Kahn alerta, por�m, para o fato de que, se todos os jovens estudantes resolverem fazer isso, os efeitos perigam se tornar piores. Trata-se de uma quest�o que requer mais estudos, conclui a economista.
No caso brasileiro, estamos mergulhados na escurid�o da falta de dados e pesquisas sobre o que ocorre na transi��o entre a gradua��o e a entrada no mercado de trabalho, tanto em per�odos de contra��o quanto de expans�o econ�mica.
Mas sabemos que a severidade de nossa recess�o � compar�vel a poucos eventos desse tipo em outros pa�ses. E temos o agravante de que, em meio � expans�o do nosso ensino superior nos �ltimos anos, surgiram muitos cursos de baixa qualidade.
S�o fatos que sugerem que as consequ�ncias da crise para nossos jovens poder�o ser similares —se n�o piores— do que as encontradas para outros pa�ses.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade