� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Circo � coisa de menina?
Fredrik Sandberg/Associated Press | ||
Crian�as em escola que combate o estere�tipo de g�nero em Estocolmo, na Su�cia |
H� alguns anos, ouvi de uma grande amiga que, quando ela pensava nas dificuldades que seus dois filhos –um casal– enfrentariam ao longo da vida, sentia um aperto no cora��o t�o ou mais forte em rela��o ao menino do que � garota.
A filha, sem d�vida, estava mais sujeita a preconceitos de g�nero. Mas encarar os estere�tipos mais silenciosos associados � masculinidade, a "ter de provar que � mach�o", tamb�m n�o era f�cil, prosseguiu ela.
Como mulher, e mais acostumada a olhar para o meu pr�prio umbigo, a coloca��o me chamou a aten��o.
Desde ent�o, tive tr�s filhos homens –hoje, com idades entre 1 e 7 anos– e entendo perfeitamente o que minha amiga quis dizer.
Conforme meus meninos crescem, os tais estere�tipos invadem minha casa com uma velocidade impressionante:
- "Mam�e, � verdade que circo � coisa de menina?"
- "N�o vou usar essa bermuda rosa que voc� comprou de jeito nenhum."
- "Por que meu irm�o ganhou presente de menina [um jogo de panelas]?"
S�o algumas das perguntas a que respondi e frases que escutei.
Estaria mentindo se escrevesse aqui que n�o esperava por nada disso.
Mas ver na pr�tica como a for�a de estere�tipos e preconceitos molda o comportamento desde t�o tenra idade tem me causado certa perplexidade.
Por isso, li com grande interesse a reportagem de Phillippe Watanabe nesta Folha sobre estudo recente que mostra como, na passagem dos cinco para os seis anos, as meninas come�am a se achar menos inteligentes do que os garotos.
� mais uma comprova��o de que a chamada primeira inf�ncia merece toda a nossa aten��o. Muito acontece na cabecinha deles nessa fase da vida.
Entendo que n�o seja f�cil romper com quest�es culturais t�o arraigadas. D� medo educar os filhos para que cres�am livres de preconceitos e que isso acabe os levando a serem, eles pr�prios, marginalizados e hostilizados.
Mas precisamos nos perguntar em que sociedade queremos que eles cres�am e vivam.
As escolas tamb�m deveriam adotar um olhar mais atento para o que as crian�as menores repetem, principalmente em momentos mais relaxados, como o recreio.
A cren�a das garotas na sua menor habilidade para aprender matem�tica reduz sua probabilidade de escolher carreiras de exatas. Isso ajuda a explicar por que ouvimos menos nomes de mulheres associados ao brilhantismo em pesquisa acad�mica de ponta nessa �rea.
A ideia de que meninos precisam ser mach�es e que isso implica n�o fazer uma s�rie de atividades contribui para que eles desprezem, com maior frequ�ncia, poss�veis voca��es art�sticas e na �rea de humanas. Isso ajuda a explicar por que ainda temos t�o poucos professores homens nas salas de aula.
Os estere�tipos s�o tamb�m a semente do machismo, da homofobia e da intoler�ncia que continuam vitimando homens e mulheres, das mais variadas idades, com uma frequ�ncia chocante.
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