� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Precisamos abandonar o ensino fragmentado
Junior Lago - 23.fev.2016/UOL | ||
Crian�as participam de atividade promovida por associa��o educacional em S�o Paulo |
"Mam�e, por que o tempo passa t�o r�pido?"
Meu filho Dante, 7, me fez essa pergunta no fim do ano passado. Eu soube, de cara, que o questionamento era motivado pela tristeza relacionada � iminente partida de seu primo Enzo da praia onde pass�vamos as f�rias.
Tentei come�ar a explicar de um jeito meio inseguro, e ele me interrompeu: "Estava pensando nisso porque na aula de filosofia a professora pediu pra gente pensar sobre quest�es da vida, de filosofia. Essa � uma, n�?".
Sim, Dante, � uma quest�o de filosofia, e tamb�m de matem�tica (contagem dos dias), de hist�ria (marca��o da passagem do tempo, registro de datas importantes), de geografia (o fen�meno da sucess�o intermin�vel de dias e noites) e at� de empatia (tentar compreender por que os pais do primo precisavam ir embora).
Isso rendeu uma linda conversa com ele e me remeteu ao livro que, por coincid�ncia, estava lendo naqueles dias: "O Foco Triplo —uma Nova Abordagem para a Educa��o", de Daniel Goleman, autor do best-seller "Intelig�ncia Emocional", e Peter Senge, professor do MIT, especializado em pensamento sist�mico.
A obra trata do desafio das escolas em adotar a chamada ASE (aprendizagem social e emocional) e � dividida em cap�tulos escritos por Goleman, sobre temas como os desafios que a tecnologia imp�e � empatia nas rela��es humanas, e por Senge, a respeito da intelig�ncia sist�mica.
O livro � interessante do come�o ao fim, mas os temas desenvolvidos por Senge (que conversam com os levantados por Goleman) me chamaram particular aten��o.
O especialista fala das pesquisas educacionais produzidas nas �ltimas duas d�cadas que t�m revelado que todos n�s nascemos com a capacidade de fazer conex�es, unir as pontas de diferentes desenvolvimentos que ocorrem ao nosso redor.
Ele cita o exemplo de um v�deo em que tr�s meninos de seis anos, alunos de uma escola com foco na educa��o sist�mica nos Estados Unidos, mostram um diagrama criado por eles pr�prios que representa as causas (palavras maldosas) de suas brigas e uma das formas de solucion�-las (pedido de desculpas).
Mas Senge afirma que, sem ferramentas que estimulem a evolu��o da habilidade de fazer esse tipo de conjectura, a "intelig�ncia sist�mica inata permanece n�o cultivada, como ocorre com a intelig�ncia musical inata se as crian�as nunca tiverem acesso a instrumentos musicais".
O problema, continua o autor, � que o modelo educacional ainda dominante, em que prevalecem curr�culos fragmentados, com temas apresentados em disciplinas separadas, vai na contram�o do est�mulo ao pensamento sist�mico.
Em vez de incentivadas "a compreender os desafios da vida real", as crian�as s�o submetidas, desde muito cedo, � "press�o de ir bem em tarefas dadas pelo professor".
Isso provavelmente limita o desenvolvimento de sua capacidade de lidar com quest�es do seu presente, como os desentendimentos com colegas e o bullying, e do futuro, como a flexibilidade para trabalhar em equipe e resolver problemas impostos pelo avan�o r�pido da tecnologia.
Segundo Senge, a sa�da � termos uma educa��o mais focada no car�ter interdisciplinar dos diversos temas e nas experi�ncias cotidianas. Menos aulas amarradas, com professor, quadro negro e giz de cera, e mais projetos feitos em grupo.
Pa�ses como Finl�ndia e Cingapura, refer�ncias de sucesso na educa��o, caminham nessa dire��o.
O Brasil est� numa etapa anterior de definir o que os alunos devem aprender em cada ano de sua vida escolar.
Tem pela frente o desafio de avan�ar rapidamente nisso e, paralelamente, encarar a necessidade de acabar com o ensino fragmentado.
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