� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
O Brasil pode estar jogando capital humano no lixo
Fabio Braga/Folhapress | ||
A pedagoga Patr�cia Perote se pergunta se o investimento para cursar ensino superior valeu a pena |
Ou o Brasil est� desperdi�ando capital humano ou n�o est� conseguindo formar um n�mero suficiente de profissionais qualificados no ensino superior. Provavelmente, uma combina��o dos dois.
Milhares de profissionais com ensino superior foram empurrados para ocupa��es de menor qualifica��o em 2015, como mostrou reportagem publicada na Folha neste domingo
O movimento foi efeito da recess�o. Mas uma an�lise dos dados da Rais (Rela��o Anual de Informa��es Sociais) revela que, embora tenha se acentuado, a tend�ncia � anterior � crise.
Entre 2008 e 2014, o mercado de trabalho formal brasileiro estava em franca expans�o. A tabela abaixo mostra que, nesse per�odo, 15 profiss�es de baixa e m�dia qualifica��o - como vendedor de com�rcio, faxineiro, vigia, servente de obras, varredor de rua e bab� - criaram 94.493 vagas para profissionais com ensino superior (considerando admiss�es menos demiss�es).
Comparada � gera��o total de mais de tr�s milh�es de posi��es para trabalhadores com diploma universit�rio no mesmo per�odo, esse crescimento pode parecer pequeno; equivale a pouco menos de 3% do total.
Mas o aumento de vagas para essas 15 profiss�es acende um sinal amarelo quando examinado sob outros �ngulos.
Ele equivale, por exemplo, a quase o dobro das 53.146 vagas de engenheiro com ensino superior geradas entre 2008 e 2014 (incluindo os 67 diferentes tipos de engenharia recenseados pela Rais).
Enquanto as 15 ocupa��es da tabela acima registraram um avan�o de 0,5 ponto percentual em seu peso no total de trabalhadores com diploma universit�rio ocupados, a fatia dos engenheiros encolheu quase nessa mesma propor��o.
Outra pondera��o � que h� muitas outras ocupa��es de baixa e m�dia qualifica��o que ampliaram sua participa��o no estoque de brasileiros empregados no mercado formal com ensino superior. Essas 15 representam apenas uma sele��o feita a t�tulo de ilustra��o.
� claro que muitas profiss�es tipicamente de ensino superior - como m�dicos, enfermeiros, administradores, farmac�uticos e contadores - tamb�m ampliaram a oferta de vagas nos �ltimos anos. Isso � positivo.
Mas era de se esperar que, num pa�s onde empregadores e especialistas apontavam um apag�o de m�o de obra qualificada, n�o tivesse ocorrido uma aloca��o t�o expressiva de graduados em ocupa��es menos sofisticadas.
Essa tend�ncia provavelmente tem v�rias explica��es. A baixa qualidade de muitos cursos de ensino superior criados nos �ltimos anos � uma delas.
A outra � o descasamento entre o que o mercado de trabalho brasileiro demandava no auge de sua expans�o (engenheiros, por exemplo) e o que o mercado de graduados ofertava (muitas ocupa��es na �rea de humanas).
Com a profunda recess�o que ainda vivemos, � provavelmente melhor para esses profissionais estar em vagas de menor qualifica��o do que entre os milh�es de desempregados brasileiros.
Mas isso n�o significa que o pa�s (governo, universidades, empresas) n�o deva parar e pensar seriamente sobre essa quest�o.
Vale a pena formar universit�rios que terminar�o fazendo faxina? A inten��o dessa reflex�o n�o �, de forma alguma, desmerecer os importantes profissionais que executam essa e outras fun��es de menor qualifica��o e que tamb�m contribuem para o desenvolvimento do pa�s.
Mas � preciso aumentar a transpar�ncia em rela��o �s possibilidades de mercado oferecidas por cada carreira, em cada institui��o de ensino superior, para que as pessoas individualmente e a sociedade como um todo possam decidir no que querem investir.
A coluna de quatro semanas atr�s falou sobre estudos que mostram que, no Chile e na Col�mbia, muitas pessoas com ensino superior nunca recuperam o investimento feito para cursar uma faculdade.
A pedagoga Patr�cia Ferreira Perote - que hoje faz faxina enquanto procura uma vaga de professora ou bab� - se pergunta se esse ser� o seu caso.
"N�o � vergonha ter diploma universit�rio e limpar casa como estou limpando, mas fico me perguntando se valeu a pena tanto esfor�o", afirma ela que ainda n�o terminou de pagar a gradua��o terminada em 2013.
Patr�cia perdeu o emprego de professora em agosto passado. Ela conta que se desdobrou para aumentar sua escolaridade depois de ver a fam�lia passando por s�rias necessidades na sua inf�ncia e escutar as pessoas dizerem: "sem estudo, voc� n�o consegue nada".
"Agora tenho diploma. E a�?".
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