� jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.
Por que Marcela Temer est� certa sobre est�mulos durante a inf�ncia
Divulga��o | ||
Cena do filme "O Come�o da Vida", dirigido por Estela Renner |
"O amor materno � realmente uma parte importante da economia que n�o � totalmente reconhecida pela sociedade".
A frase at� combinaria com o discurso feito por Marcela Temer no lan�amento do programa "Crian�a Feliz" h� duas semanas, mas foi dita pelo Nobel de Economia James Heckman no document�rio "O Come�o da Vida", idealizado pela Funda��o Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) e o Instituto Alana.
A fala da primeira-dama sobre a import�ncia dos est�mulos ao desenvolvimento na primeira inf�ncia causou alvoro�o nas redes sociais. Coment�rios s�rios e piadas versaram sobre a orat�ria fraca, o vestido caro, a suposta volta do assistencialismo, o nome do programa.
De forma geral, tudo em sintonia com a inestim�vel liberdade de express�o.
Mas surpreende que nada dos acertos de conte�do tenha merecido debate, dada a urg�ncia do tema para o Brasil.
N�o foi por acaso que o discurso se assemelhou ao de Heckman, que h� duas d�cadas pesquisa as causas das desigualdades entre as pessoas.
Estudos mostram que, realmente, o desenvolvimento f�sico, emocional e cognitivo na primeira inf�ncia, ou seja, at� os seis anos, costuma determinar o futuro dos indiv�duos.
O fracasso na vida pode, portanto, ser selado muito cedo. O gr�fico abaixo ilustra essa desconcertante realidade.
Os dados foram cedidos � coluna pelo economista brasileiro Fl�vio Cunha, da Universidade Rice (nos EUA), e fazem parte de sua pesquisa sobre desenvolvimento infantil.
As duas linhas mostram a evolu��o das habilidades cognitivas do nascimento at� a adolesc�ncia em dois grupos: a de crian�as americanas entre as 25% mais pobres e a daquelas entre as 25% mais ricas.
Chama a aten��o que: 1- os pequenos de fam�lias de baixa renda j� larguem em desvantagem; 2- esse hiato aumente muito antes da chegada � escola; 3- a partir de sete anos, a dist�ncia que separa os dois grupos fique praticamente est�vel.
Uma �tima not�cia de estudos recentes � que a revers�o de defasagens de aprendizagem na adolesc�ncia � at� poss�vel. Mas s�o medidas que custam muito mais em termos de dinheiro e esfor�o do que investimentos feitos na primeira inf�ncia.
Para se desenvolver bem, a crian�a pequena precisa ter sa�de e alimenta��o adequada, claro, mas tamb�m incentivos como os mencionados por Marcela Temer: conversas, leituras, m�sicas.
Estimular os filhos pequenos � privil�gio de m�es de fam�lias de renda alta, como a primeira-dama? Majoritariamente, sim.
Mas precisa ser assim? Definitivamente n�o, embora os desafios para pais e demais cuidadores de contextos menos favorecidos sejam muito maiores. E a grande falha do discurso de Marcela foi n�o ter reconhecido essas dificuldades.
Essas s�o quest�es que precisam ser debatidas, mostradas, enfatizadas.
Atos simples como falar mais com os pequenos e, em linguagem simples, ir descrevendo o mundo ao redor deles –como as cores e os nomes dos objetos– j� ajudam, e muito.
Segundo Eduardo Queiroz, presidente da FMCSV, que incentiva projetos em prol da primeira inf�ncia, h� iniciativas regionais no Brasil que t�m sido bem-sucedidas em transmitir esse tipo de instru��o.
S�o os casos de programas como o "Fam�lia que Acolhe" (Boa Vista, Roraima) e o "Primeira Inf�ncia Melhor" (Rio Grande do Sul), que, de acordo com o governo, v�o inspirar o "Crian�a Feliz".
Cabe � sociedade brasileira acompanhar, cobrar, debater e criticar a implementa��o dessa pol�tica, mas n�o ignor�-la.
Ao governo, cabe fazer uma ampla dissemina��o de informa��es sobre o assunto. Um bom come�o seria corrigir a localiza��o de Boa Vista em nota dispon�vel no site do Minist�rio do Desenvolvimento Social e Agr�rio sobre o "Crian�a Feliz", que, erroneamente, situa a cidade no Acre.
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