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Nascido na It�lia, veio ainda crian�a para o Brasil, onde fez sua carreira jornal�stica. Recebeu o pr�mio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilus�es Armadas'. Escreve �s quartas-feiras e domingos.
O prazo de validade de Nelson Barbosa
Lula disse que o ministro Joaquim Levy estourara seu prazo de validade no Minist�rio da Fazenda. O PT decidiu estourar o prazo de validade de Nelson Barbosa na cadeira que a doutora Dilma transformou em cama de faquir.
Outro dia, ele foi a um semin�rio e mencionou a frase de um "importante l�der": "N�o existe essa coisa de dinheiro p�blico, o que existe � o dinheiro do contribuinte".
Aleluia, um ministro de governo petista citando Margaret Thatcher, a dama de ferro da ressurrei��o conservadora do final do s�culo passado. N�o pronunciou seu santo nome, mas a� seria demais.
O ministro citou a baronesa num evento do banco Ita� em S�o Paulo enquanto em Bras�lia o PT cozinha uma monstruosidade matem�tica, moral e fiscal.
Os Estados e munic�pios devem � Uni�o R$ 402 bilh�es. S�o papagaios do s�culo passado, renegociados em 1997. Ningu�m foi obrigado a repactuar a d�vida. Passou o tempo, alguns devedores honraram os contratos, outros n�o. Come�ou a grita pela renegocia��o do renegociado e o assunto est� na reta final da discuss�o no Congresso. Os Estados de S�o Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul s�o donos de 83% dessa d�vida e o refresco custaria cerca de R$ 10 bilh�es por ano � Uni�o. V� l�.
O ministro Nelson Barbosa conduziu as conversas para espichar os prazos e melhorar as condi��es para os devedores, exigindo contrapartidas. Quem quiser as novas condi��es deve se comprometer com coisas assim:
1) N�o conceder aumentos aos servidores acima do reajuste linear determinado pela Constitui��o.
2) Suspender a contrata��o de pessoal.
3) N�o criar novos programas de incentivos tribut�rios.
4) Elevar as al�quotas de contribui��o previdenci�ria dos servidores.
A Uni�o nada quer al�m da verdade matem�tica e da responsabilidade administrativa. Se um Estado ou munic�pio est� quebrado porque jogou dinheiro pela janela e n�o pode pagar o que deve, obriga-se a mudar de conduta. � assim que a coisa funciona na casa das pessoas. Novamente, ningu�m � obrigado a aderir.
Seria natural que cr�ticas e emendas oportunistas partissem da oposi��o, mas o l�der da bancada petista na C�mara sugeriu o seguinte: "� melhor separar o projeto em dois, aprovar a renegocia��o e discutir as contrapartidas depois em uma comiss�o especial". Esse � o sonho de todos os caloteiros. Primeiro eu recebo as facilidades, depois discutimos os compromissos.
Isso � punga. Penaliza quem paga o que deve e s� gasta o que pode, beneficiando quem torra o que n�o tem e n�o paga o que j� renegociou.
Se o ministro Nelson Barbosa n�o tem o apoio do seu partido no encaminhamento de uma quest�o desse tamanho, seu prazo de validade venceu. Fazendo de conta que n�o v� os pregos na cama de faquir, ele continuar� num governo ruinoso a servi�o de um partido irrespons�vel, levando o pa�s � bancarrota.
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TUCANOS VOAM
Em qualquer �poca e em qualquer situa��o, sempre haver� tucanos voando para todos os lados.
Por isso, n�o h� raz�o para surpresa ao se ver que pelo menos um gr�o-tucano, eterno defensor do impedimento da doutora Dilma, est� conversando com os sub�rbios do caderninho telef�nico de Lula.
Talvez isso seja resultado da percep��o de que Dilma supera a vota��o na C�mara.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo � um idiota e faz um curso intensivo de ci�ncia pol�tica lendo textos do professor Celso Lafer.
H� pouco, ele escreveu um artigo descascando o secret�rio-geral da Organiza��o dos Estados Americanos por ter se metido na pol�tica interna brasileira. Lafer tratou da discuss�o do impedimento da doutora Dilma e, com um toque de mal�cia, lembrou que "o caso mais conhecido � o do presidente Collor, que n�o foi qualificado como golpe".
Ele tem raz�o ao expor a seletividade da mem�ria dos petistas.
Eremildo n�o entende por que Lafer � sistematicamente qualificado ao p� de seus artigos apenas como "professor da USP e ministro das Rela��es Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso".
Lafer foi o �ltimo ministro das Rela��es Exteriores de Fernando Collor, de 13 de abril a 2 outubro de 1992.
VOTO �TIL
Admita-se que um voto contra o impedimento da doutora valesse R$ 2 milh�es e a simples aus�ncia do deputado estivesse cotada a R$ 1 milh�o.
Qual a melhor maneira para se provar que o voto n�o foi vendido? Indo � sess�o, com o dinheiro no bolso e votando a favor do impeachment.
Quem j� viu elefante voar garante que aconteceram casos assim na degola de Fernando Collor.
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MAU SINAL
Em 2002, o jornalista Larry Rohter, correspondente do "New York Times" no Brasil travou uma longa e silenciosa guerra com a burocracia do jornal para que deixassem de qualificar Lula como "leftist" (esquerdista). Prevaleceu, mas quando escreveu que Nosso Guia tinha um fraco pelo copo, ele tentou tir�-lo do pa�s.
H� poucas semanas, o jornal fez um duro editorial contra a doutora Dilma por ter nomeado seu mentor para a chefia da Casa Civil, justificando-se com um blablabl� que qualificou de "rid�culo".
Nele, meteram de novo o "leftist" em Lula.
A se��o de editoriais do "Times" nada tem a ver com o corpo de rep�rteres e correspondentes do jornal. No dia 3 de abril de 1964 o Times publicou um editorial saudando a queda de Jo�o Goulart, chamando-o de "incompetente" e "irrespons�vel", adjetivos que fazia por merecer. � muito prov�vel que esse editorial tenha sido escrito por Herbert Matthews, queridinho da esquerda pela louva��o que fizera de Fidel Castro. A Casa Branca cabalava editoriais contra Jango desde o dia 28 de mar�o.
MADAME NATASHA
Madame Natasha, como todo mundo, n�o consegue ver nexo no carnaval que tomou conta do Congresso e de uma parte do Judici�rio. A senhora continua cuidando do idioma e n�o v� raz�o para o surgimento de um novo t�tulo nobili�rquico, o de "jurista". H� "juristas" pedindo impeachment, e "juristas" v�o ao Planalto para denunciar o golpe.
A senhora acredita que eles s�o apenas advogados. Alguns s�o advogados e professores.
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MARINA E A TEORIA DO ERRO DOS OUTROS
Se a crise desembocar numa elei��o presidencial, a ex-senadora Marina Silva entrar� com boa vantagem na disputa. Duas vezes candidata, teve 19 milh�es de votos em 2010 e 22 milh�es em 2014. Tomara que ela pare de culpar os eleitores pelo fato de nunca ter chegado ao segundo turno. A ex-senadora pisou tr�s vezes na mesma bola.
Numa, disse: "A popula��o ter� oportunidade de corrigir o erro a que foi induzida".
Na outra: "O TSE devolveria para os 200 milh�es de brasileiros a possibilidade de reparar o erro a que foram induzidos a cometer."
Num documento da Rede, repetiu-se, sempre atribuindo o "erro" aos eleitores e usando express�es como "corrigir" e "reparar". Que tal discutir os indutores e deixar em paz os eleitores?
Fez melhor A�cio Neves, que disse ter sido derrotado por uma "organiza��o criminosa".
Livraria da Folha
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