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Nascido na It�lia, veio ainda crian�a para o Brasil, onde fez sua carreira jornal�stica. Recebeu o pr�mio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilus�es Armadas'. Escreve �s quartas-feiras e domingos.
Bolsa para todos, ou para ningu�m
No ano passado as montadoras de ve�culos dispensaram 12,4 mil trabalhadores. Neste ano a Volkswagen disse que dispensar� mais 800, e a Mercedes-Benz, 244. Disso resultaram greves nas duas empresas. Para um come�o de ano, nada pior, e isso � apenas o come�o. S� o tempo dir� se Dilma Rousseff e Joaquim Levy vivem no mesmo pa�s, mas o bafo do desemprego de metal�rgicos acordou uma velha ideia: a empresa dispensa o trabalhador e ele vai para casa com uma parte do sal�rio. O pulo do gato est� na identidade de quem paga. Copiando-se uma iniciativa alem�, a empresa pagaria uma parte, e a Vi�va, outra. Seria a Bolsa Metal�rgico, ou Bolsa Montadora. Isso num governo que acaba de mandar ao Congresso uma medida provis�ria apertando as exig�ncias feitas a todos os trabalhadores para o acesso ao seguro-desemprego.
Essa ideia j� apareceu no in�cio de 2014, quando as vendas de ve�culos come�aram a cair. A analogia com o modelo alem�o � mistificadora. L�, a crise que criou esse gatilho ocorreu em 2009, quando a venda de ve�culos caiu 30%, o PIB contraiu-se 4%. Em Pindorama a situa��o � diferente. Ademais, nos �ltimos anos o mercado de ve�culos foi estimulado por uma ren�ncia fiscal de R$ 12,3 bilh�es e nem todas as montadoras est�o perdendo competitividade.
N�o faz sentido botar dinheiro da Vi�va para socorrer metal�rgicos e montadoras. Se o mecanismo � bom, deveria valer tamb�m para todos os outros setores da economia e para todas as categorias de trabalhadores.
O governo tem dinheiro para ficar com parte da conta? O doutor Levy sabe que n�o. No seu discurso de posse o novo ministro da Fazenda fez uma cr�tica do patrimonialismo, "a pior privatiza��o da coisa p�blica". Citando o historiador Raymundo Faoro, apontou os malef�cios do Estado centralizador, com os viscondes e marqueses do imp�rio.
Tudo bem, muitos s�o os males do Estado, mas Faoro mostrou, num quadro do s�culo 19 que persiste no 21, que h� gente na outra ponta do problema. Ele escreveu o seguinte:
"O empres�rio quer a ind�stria, mas solicita a prote��o alfandeg�ria e o cr�dito p�blico. Duas etapas constituem o ideal do empres�rio: na c�pula, o amparo estatal; no n�vel da empresa, a livre iniciativa."
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CONEX�ES
� compreens�vel que as inves-tiga��es das petrorroubalheiras partam de ind�cios para lapidar suspeitas. Ainda assim, uma coisa � juntar pe�as de um quebra-cabe�as, e outra � construir teorias a partir de simples conex�es.
A visitou B que telefonou para C e reuniu-se com D pode significar alguma coisa, mas qualquer rela��o de A com D precisar� ser provada.
Num exemplo com personagens bem mais divertidos que os maganos das petrorroubalheiras:
Em 1938 o milion�rio Joseph Kennedy namorou a atriz alem� Marlene Dietrich. Mais tarde, Marlene namorou Marilyn Monroe, que por sua vez namorou o presidente John Kennedy, que em 1963 namorou La Dietrich.
E da�? N�o se pode dizer Joseph e seu filho John tenham dormido juntos.
ELETROSURINAME
A Eletropaulo levou nove horas para atender ao pedido de um hospital que ficara sem energia. Um parto foi realizado com ilumina��o de celulares, e um beb� foi ventilado manualmente.
A empresa diz que foi um problema pontual. Tudo bem.
Na pr�xima vez que o presidente da Eletropaulo, doutor Britaldo Soares, pedir uma audi�ncia ao ministro de Minas e Energia, ele poder� marc�-la para as 10h, recebendo-o �s 19h, com as luzes ligadas.
FIM DE UM TIPO
O presidente Fran�ois Hollande � a encarna��o de um desastre, mas, por pior que seja seu desempenho, ele ter� um m�rito hist�rico: mandou para o lixo a figura do socialista franc�s, um sujeito que a gente n�o entende, mas de quem se gosta, sem saber direito por qu�.
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OS FUNDOS NA FRENTE
O pr�ximo cap�tulo das petror-roubalheiras come�ou a deslocar-se na dire��o dos grandes fundos de pens�o de estatais. A conta � simples: em quase todas as transa��es das empreiteiras, elas entravam com projetos e amizades, mas o dinheiro sa�a desses fundos.
Por exemplo: o aeroporto de Guarulhos foi entregue a um cons�rcio liderado pela empreiteira OAS. Nele, s�o parceiros os fundos Petros e Funcef, dos servidores da Petrobras e da Caixa. Em setembro passado o Petros tinha um deficit de R$ 5,5 bilh�es, e o do Funcef estava em R$ 4,9 bilh�es.
CAUTELAS BANC�RIAS
H� dezenas de contas de brasileiros bloqueadas em bancos europeus. Em alguns casos, os bloqueios foram pedidos pelo governo, em outros, foi por precau��o dos bancos. Na ponta nacional, em pelo menos um grande banco, por cautela, foram afastados alguns gerentes e superintendentes por cujas mesas passaram neg�cios outrora magn�ficos.
FRITURA
H� um mist�rio no lance da irrita��o da doutora Dilma com as declara��es do ministro Nelson Barbosa sobre o sal�rio m�nimo. Ela estava na praia. Entende-se que pediu-lhe uma retifica��o, mas isso poderia ter sido feito discretamente, sem a teatraliza��o de uma reprimenda escolar.
Se o acompanhamento sinf�nico dado ao epis�dio saiu do Planalto, o que h� por l� n�o � mais uma frigideira. � grelha mesmo.
DOIS COCOS
A a��o da Petrobras caiu abaixo de R$ 10. Custa menos que dois cocos nos quiosques de Ipanema, onde cada um sai por R$ 5.
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CHIORO CULPA O CLIENTE DO PLANO DE SA�DE
O ministro da Sa�de, comiss�rio Arthur Chioro, gostaria que a sociedade brasileira debatesse melhor a quest�o do financiamento da sa�de. Leia-se, mais impostos. Numa entrevista � rep�rter Ligia Formenti, ele mostrou que � um homem de novas ideias. Novas e ruins. Referindo-se aos planos de sa�de privados, disse o seguinte:
"O que n�o d� � as pessoas quererem ter um plano de sa�de e n�o pagar o valor real. � o famoso 'finjo que estou te cobrando' e voc� 'finge que est� pagando'".
As "pessoas" pagam o que as operadoras cobram. Pelo que diz o ministro, se h� planos de sa�de que enganam clientes, a responsabilidade n�o seria das empresas, mas dessas "pessoas", os clientes, consumidores. De onde Chioro tirou a gracinha do "finjo que estou te cobrando e voc� finge que est� pagando?" Ele ganha uma viagem a Cuba se souber de uma operadora que "finge" cobrar. Quando o ministro da Sa�de diz que existe algu�m que "finge que est� pagando", simplesmente ofende aqueles que desembolsam suas mensalidades.
Na mesma entrevista, Chioro mostrou que "no final de contas fica um jogo entre um que n�o quer que use (os servi�os m�dicos) e outro que quer usar". Tudo bem, mas quem "quer usar" pagou. E aquele que "n�o quer que use" recebeu.
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