Representantes da indústria automotiva saíram mais uma vez frustrados de um encontro com Paulo Guedes. Na avaliação de executivos que tiveram acesso à conversa desta quinta (27) em Brasília, o ministro da Economia fugiu das perguntas e apresentou um conteúdo raso.
O problema não é a falta de diálogo –a interlocução é constante, há acesso fácil ao poder e reuniões quinzenais– mas, sim, a falta de produtividade desses encontros. Em resumo, a visão de alguns dos envolvidos é a seguinte: fala-se uma coisa, entende-se outra e não se chega a lugar nenhum.
O problema não nasceu com a pandemia de Covid-19. As rusgas surgiram ainda em 2019, ano em que a atual diretoria da Anfavea (associação das montadoras) assumiu o posto com um discurso conciliatório.
“A Anfavea pode e vai contribuir com as reformas necessárias. Se nós fizermos a lição de casa, em três anos poderemos voltar a ter um mercado mais robusto”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, no seu discurso de posse, em abril de 2019. “Só temos uma alternativa, que é crescer e crescer.”
Para se adequar à nova linguagem de Brasília, as montadoras mudaram as demandas. Não se batia à porta por incentivos fiscais, o que se pedia era previsibilidade nas regras e medidas que tornassem o país mais competitivo. Mas as conversas não evoluíram antes da pandemia, e agora o que já era difícil se tornou impossível.
A Anfavea subiu o tom e, no lugar dos afagos, vieram as críticas. “Tem gente em Brasília pensando na eleição de 2022, mas não está pensando em como fechar o ano, em como cuidar da população, em como cuidar das empresas, em como cuidar do emprego”, disse Moraes em abril, dois anos após seu discurso de posse.
Enquanto a conversa não avança, o setor segue em recuperação: as vendas de veículos leves e pesados terão alta de aproximadamente 17% em maio na comparação com abril. É o que mostram os números prévios de licenciamentos com base no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
O resultado confirma a tendência de alta em 2021, apesar de a pandemia continuar dando sinais de descontrole e da falta de peças.
A média diária de vendas até quinta (27) é de 8.815 unidades, com destaque para os resultados obtidos por picapes e utilitários esportivos compactos. Embora esses modelos estejam na crista da onda, há distorções geradas pelas interrupções Brasil afora.
A produção do Chevrolet Onix, carro mais vendido dos últimos seis anos, continua parada em Gravataí (RS). A General Motors também deixará de fazer o Tracker em São Caetano do Sul (Grande São Paulo) por seis semanas entre os meses de junho e agosto.
Um dos motivos dessas interrupções é a falta de componentes, principalmente semicondutores. Mas no caso da fábrica do ABC, há uma outra razão: a GM fará diversas intervenções para adaptar a linha de montagem à sua futura picape, que deve estrear em 2022.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.