Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Djamila Ribeiro
Descrição de chapéu Todas

Plano de militarização das escolas paulistas é preocupante

É mais um episódio de atraso na formação educacional da juventude

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A rota do governo estadual rumo à militarização de escolas é antidemocrática e preocupante.

Antidemocrática pois aprovada a toque de caixa, sob cacetadas em estudantes e professores.

Preocupante por ser mais um sinal de endosso à militarização do serviço público estadual, num ano no qual recordes de letalidade policial são batidos.

Cabe ao jornalismo apurar quem são os donos das empresas beneficiadas por essa alteração de rota no ensino paulista. Cabe perguntar: é um projeto pensado e debatido democraticamente em benefício da população ou uma confraria de olho no grande orçamento paulista?

Mas mais do que tratar do mercantilismo de consciências, precisamos respirar e nos perguntar sobre a educação que queremos. Já estamos em 2024, e a sociedade está assolada por guerras reforçadas pela retórica militar de disciplina e ordem. No Brasil, a guerra urbana sustentada pelo discurso de segurança pública tem feito tragédias todos os dias, sem nenhum reflexo de melhora na qualidade de vida da população ou na redução da criminalidade.

Ao contrário, além da piora de indicadores de educação e segurança, estamos assistindo, ano a ano, ao fortalecimento de milícias paramilitares que endossam o discurso cívico-militar e que acumulam tamanho capital político que se tornaram parte protagonista da política brasileira.

Ilustração de fundo lilás com duas figuras masculinas caminhando e carregando a bandeira do Brasil ao centro. Elas usam roupa branca e sapatos azuis. A figura do lado esquerdo tem um dos punhos erguidos.
Ilustração de Aline Bispo para coluna de Djamila Ribeiro de 23 de maio de 2024 - Aline Bispo/Folhapress

No passado, essas milícias também ingressaram em comunidades vulneráveis sob o discurso da segurança e da ordem, mas hoje pouco ou nada diferem do mais violento chefe do chamado crime organizado.

Se o povo carioca sofre com essa realidade há mais tempo, agora o povo paulista prova do veneno.

Pois quem sofre a "disciplina" são justamente aqueles que, ao poder, não interessa que questionem sua situação social; é fundamental que obedeçam e sigam a vida de gado que lhes foi desenhada. Afinal, estamos falando nada mais, nada menos, do que mais uma forma de controle social, quando o que precisamos, enquanto país, é de estímulo à criatividade e questionamento a um sistema social falido –ou melhor, bem-sucedido em promover desigualdades.

Fui professora da rede estadual de ensino. Lecionava filosofia para alunos e alunas de uma escola pública na periferia de Guarulhos (SP). O colégio, em si, já era desestimulante para o aprendizado. Sua arquitetura era hostil, suas paredes malcuidadas e nada ali inspirava a ampliação de horizontes. Enquanto professora, também ficava de mãos amarradas para propor algo diferente, uma vez que o orçamento era ínfimo e mal pagava a manutenção da instituição.

Dito isso, é claro que a chegada de mais pessoal e de investimento será bem-vinda em um cenário como esse. É como se ficássemos presos na equação de precarização absoluta, até que o oferecimento da "solução" seja o alegado desejo de toda a população, pois, para quem tem fome, até migalha é muito.

Enquanto isso, o sórdido é que colégios de pessoas brancas ricas e de classe média alta são espaços amplos, de estímulo à criticidade e capacidade de abstração. Lá não há interventor militar...

Não espanta a informação de que esses colégios serão priorizados em bairros de baixo índices de desenvolvimento humano. Ali, a maioria das pessoas é negra, como também é nessas regiões que os recordes de letalidade policial vêm sendo batidos em larga margem.

Recentemente, um livro de minha autoria foi censurado de modo sorrateiro pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. É um livro de memórias com minha avó. Na primeira página, há uma foto dela vestida como uma iniciada no candomblé. Os professores perguntaram à secretaria por qual razão o livro havia sido barrado, ao que foi respondido que ele abordava "temas sensíveis".

Nesse sentido, se o amor de uma neta por sua avó candomblecista é sensível, o que dirá pensar sobre perfilamento racial na atuação violenta da polícia militar.

Enfim, o projeto de cabresto na consciência da população paulista não começou hoje, mas nem por isso deixamos de lamentar e manifestar nosso repúdio a mais esse episódio de atraso na formação educacional da juventude paulista.

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