Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Djamila Ribeiro

É importante levar para o exterior obras escritas por pessoas negras

Livros da coleção Feminismos Plurais, da editora Jandaíra, alcançam Alemanha, França e outros países da Europa

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Durante o último mês de outubro estive na França, na Alemanha e na Bélgica com Rodney William, ou Pai Rodney, babalorixá e doutor em ciências sociais pela PUC-SP, para a turnê de lançamento das edições francesas de nossos livros e também para a estreia da edição alemã de "Lugar de Fala". Trata-se da terceira turnê de divulgação das edições traduzidas dos meus livros e dos autores da coleção Feminismos Plurais, a qual coordeno e que é publicada no Brasil pela editora Jandaíra.

Para tanto, firmamos uma parceria na França com Paula Anacaona, diretora da Editions Anacaona, que tem feito um trabalho memorável na publicação de epistemologias negras brasileiras. O primeiro evento da turnê foi em Rennes, no liceu Chateaubriand, um dos maiores colégios da França, onde pudemos conversar com os jovens.

Na ilustração, de fundo rosa, uma mulher está ao centro lendo um livro, à sua esquerda está uma pilha de livros e à sua direita outros livros e um vaso com planta em cima desses.
Ilustração de Aline Bispo para coluna de Djamila Ribeiro - Aline Bispo

Fomos recebidos pelo diretor da instituição, e alguns dos nossos títulos em francês estão na bibliografia da grade curricular. Sou grata à professora Ana Daudibon, brasileira radicada na França, que é peça chave para essa parceria com o liceu. À noite, também estivemos na Redação do jornal local, o Ouest France, para apresentar o livro no auditório e finalizamos a noite com um jantar na casa de Fanchette, uma querida francesa parceira desde a primeira turnê.

Foi em Lille que fizemos um dos eventos mais cheios. Estivemos no café Le Sarrazins, polo pulsante da esquerda marxista da cidade, que nos recebeu de maneira maravilhosa. Trazer os saberes feministas negros brasileiros a ambientes progressistas pode muitas vezes ser hostil, sobretudo para quem fixa a raiz das opressões na estrutura de classe e enxerga opressões de raça e gênero como algo lateral, de menor importância. Não foi o caso dos anfitriões daquele café, pois além de instigarem um debate rico, venderam tanto livro e cerveja naquele dia que dividiram de forma voluntária parte generosa do lucro conosco.

De lá, tomei um trem para Frankfurt. Estava na cidade tanto para participar da feira de livros ali, que é a maior do mundo e uma oportunidade única de intercâmbio entre escritoras e editoras de diversos idiomas. Também aproveitei a ida para lançar a edição alemã de meu livro "Lugar de Fala". Publiquei pela Editions Assemblage, em parceria com a Universidade de Mainz, onde sou pesquisadora visitante. Agradeço às minhas queridas irmãs da diáspora Jamila Adamou e Ana Graça Wittkowski, articuladoras que fizeram esse livro possível, como também a Inajá Wittkowski, tradutora da obra.

Em Marselha, no sul da França, estivemos na única cidade na qual pudemos passar alguns dias e conhecer pela primeira vez nesta edição da tour.

Marselha tem uma multidiversidade cultural que, junto com o clima quente e uma bagunça nas ruas, faz o brasileiro e a brasileira se sentirem em casa. O evento da cidade foi organizado por uma associação de mulheres africanas e foi um dos mais calorosos. Marselha é uma cidade linda para a qual gostaria muito de voltar.

Passei também por Bruxelas junto com Pai Rodney, onde lançamos nossos livros para um auditório cheio na biblioteca Muntpunt, no centro da cidade. Pai Rodney, que estava lá para lançar seu "Apropriação Cultural", foi bombardeado por perguntas de pessoas que traziam para a discussão a relação entre Bélgica e Congo, o "chocolate belga" (seria mais adequado "chocolate congolês") e toda a história do colonialismo.

Tivemos uma audiência cheia e ilustre, com a presença de parlamentares europeus. Bruxelas é sempre uma cidade generosa com nossos lançamentos.

Em Paris, terminamos a tour de trabalho na Fundação Jean Jaurès, para uma casa cheia. O último dia foi de descanso, no qual fomos passear e almoçar na torre Eiffel a convite do diretor do monumento, Patrick Branco Ruivo. Uma tarde muito especial em nossas vidas que fechou a terceira tour de lançamento
de livros com chave de ouro.

Descrevo tudo isso porque acho muito importante o trabalho que tem sido feito de internacionalização das obras escritas por pessoas negras brasileiras. Até o momento, são seis títulos da coleção Feminismos Plurais, entre publicados ou prestes a publicar, e outros livros traduzidos em espanhol e italiano. Começamos agora em alemão, e "Lugar de Fala" será publicado em inglês pela Yale University Press em 2023.

Não é fácil, por uma série de razões, mas se destaca a vanguarda desse projeto que atravessa livros de não ficção, um feito por si só, em uma articulação capitaneada por duas mulheres negras, eu no Brasil e Paula Anacaona na França. Isso é digno de nota e motivo de imenso orgulho. Em 2023 tem mais.

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