Em diversos países desenvolvidos, observa-se uma polarização política acentuada entre jovens de 18 a 29 anos, de acordo com a revista The Economist. Há 20 anos, as diferenças políticas entre os gêneros eram quase imperceptíveis, mas até 2020 essa distância dobrou em relação à diferença de opiniões entre graduados e não graduados. Os jovens homens tendem ligeiramente mais à direita, enquanto as jovens mulheres mostram uma preferência acentuada pela esquerda, com uma disparidade de 27 pontos percentuais.
Nos EUA, essa divergência atingiu 1,4 ponto, um contraste significativo em relação a outros grandes países como o Reino Unido e a Coreia do Sul. Essa diferença sinaliza preocupações distintas entre gêneros, com mulheres jovens mais voltadas para questões de injustiça social, como violência e disparidades salariais. Embora alguns homens reconheçam essas questões, existe uma resistência considerável por parte deles, com alegações de que o feminismo teria excedido seus limites.
A diferença nas percepções entre sexos é evidente, especialmente entre rapazes, alguns dos quais são tão ou mais antifeministas que gerações mais velhas. Notavelmente, cerca de 80% dos sul-coreanos de 20 anos sentem que são discriminados, uma percepção não compartilhada por homens mais velhos ou mulheres de qualquer idade.
Ainda segundo a revista, as razões por trás dessa divisão incluem discrepâncias educacionais, com garotos em desvantagem, experiências divergentes de sexismo em sociedades que evoluíram, e a influência de bolhas em redes sociais. Políticos de direita aproveitam-se retoricamente das queixas dos jovens homens, enquanto a esquerda frequentemente ignora seus problemas. Será que já não é hora de olhar para o lado masculino da moeda que é a desigualdade de gênero?
O debate sobre essas diferenças no mercado de trabalho muitas vezes negligencia a pressão que os homens enfrentam devido ao papel tradicional de provedor principal das famílias. As pesquisadoras Clotilde Coron e Géraldine Schmidt exploraram como esse status de provedor interage com o gênero para influenciar a percepção de insegurança no trabalho, concluindo que é esse papel, não necessariamente outras diferenças entre os sexos, que intensifica a sensação de insegurança.
Esta expectativa de provedor acarreta consequências significativas: o desemprego dos maridos (não das esposas) eleva o risco de divórcio, sobretudo em contextos onde prevalecem fortes normas de provedor e em famílias com filhos. Em diversos lugares, os tribunais de divórcio tendem a privilegiar as mães na disputa pela guarda dos filhos, e as políticas de aposentadoria frequentemente beneficiam as mulheres, permitindo-lhes aposentarem-se mais cedo, apesar de os homens ingressarem no mercado de trabalho antes e terem menor expectativa de vida. Além disso, o serviço militar obrigatório, particularmente rigoroso em países como a Coreia do Sul, reforça o ressentimento masculino.
A situação é agravada pela instabilidade crescente do mercado de trabalho e pelo fato de os homens, em média, apresentarem resultados educacionais inferiores. Diante dessas adversidades e da expectativa de garantir o sustento financeiro da família, muitos homens passam a apoiar políticas e partidos que prometem segurança no emprego e estabilidade econômica. Paralelamente, as mulheres, em sua luta por igualdade no trabalho e na sociedade, tendem a apoiar iniciativas que enfatizam a equidade de direitos e o suporte social.
Essa complexa interação entre o status de provedor, a insegurança no mundo do trabalho e a polarização destaca a necessidade de uma abordagem abrangente para enfrentar a crescente divisão entre os sexos. É fundamental que o debate público amplie seu escopo para incluir políticas que considerem a desigualdade de gênero sob uma perspectiva que também contemple as restrições impostas aos homens pelo machismo e pelas expectativas sociais, muitas vezes irrealistas.
A sociedade ainda enfrenta desafios para resolver eficazmente os dilemas que afastam jovens de ambos os sexos. Uma abordagem proposta inclui políticas como o fim do alistamento militar obrigatório e a adoção de uma licença-paternidade ampliada. Além disso, é necessário adaptar a educação para atender melhor aos meninos que apresentam dificuldades acadêmicas.
Nesse contexto, o autor Richard Reeves sugere promover a contratação de professores homens para os anos iniciais e considerar retardar a entrada de meninos na escola por um ano, levando em conta seu desenvolvimento mais gradual. Fortalecer a formação profissionalizante para direcionar os jovens a carreiras na saúde, educação e administração, áreas tradicionalmente menos escolhidas por eles, é outra estratégia possível. Implementar algumas mudanças pode contribuir para a melhor adaptação de meninos e homens às transformações globais, beneficiando igualmente ambos os gêneros.
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