Neste momento da história já estamos acostumados com turbulência na Cisjordânia palestina, mas turbulência em East Palestine, Ohio, é novidade. O recente descarrilamento de um trem da Norfolk Southern derramou uma carga altamente tóxica que poluiu mais de 11 km de um rio, matando no mínimo 3.500 peixes e potencialmente afetando a fonte de água que abastece 5 milhões de pessoas.
Queimas controladas adicionais necessárias cobriram a cidade de nuvens negras, enquanto substâncias químicas perigosas permeiam o solo. Moradores, agora orientados a voltar para suas casas, queixam-se de dores de cabeça, erupções cutâneas e odores incomuns e estão preocupados com o futuro da comunidade e os meios de subsistência dos agricultores locais.
Quem vai comprar safras de uma região que ganhou essa fama? É mais do que sabido que se nós, americanos, queremos comida cheia de substâncias químicas tóxicas, vamos ao McDonald’s. Que, por falar nisso, induz-me a produzir gases perigosos que também sabidamente preocupam os moradores locais e matam exemplares da fauna.
Então, como se permitiu que isso acontecesse?
A história começa há muito tempo, na Guerra Civil americana, quando os freios do trem em questão foram fabricados. A administração Obama tentou modernizá-los, adotando sistemas inventados nos anos 1990 —que ainda parecem velhos.
Atualizar para sistemas de freios que ainda estão ouvindo o Nirvana pode ser um problema. Não apenas isso "Smell Like Teen Spirit" (tem cheiro de espírito teen) como também "Tem Cheiro de Substâncias Químicas Tóxicas e Cobiça Corporativa", um sucesso menos conhecido.
Mas empresas ferroviárias conseguiram que esses regulamentos fossem revogados durante o governo de Trump, e a administração atual se negou a trazê-los de volta. Nem o governo de Obama nem o de Trump classificaram esse trem como "de transporte de substâncias inflamáveis e de alto risco", apesar de ele transportar substâncias inflamáveis e de alto risco e, segundo minhas anotações, ser um trem.
Então, em dezembro, o Congresso americano e Joe Biden bloquearam a greve do sindicato de ferroviários sobre segurança e direitos dos trabalhadores, chegando a lhes negar licença médica.
Ferroviários afirmam que há falta de pessoal, que estão exaustos e que trabalham sem condições de segurança devido à prática da "operação ferroviária programada com precisão", em que se cortam custos usando o mínimo possível de pessoal, trabalhando os turnos mais longos, nos trens mais compridos e com a menor manutenção possível. Sendo que o setor ferroviário é a indústria mais rentável do país.
Com o quê eles gastam seu dinheiro? Entre 2011 e 2021, gastaram US$ 191 bilhões em recompras de ações, em que corporações adquirem todas as ações disponíveis de sua empresa para inflar o valor artificialmente, em vez de usar o dinheiro para criar um serviço com segurança e qualidade.
E gastaram US$ 350 milhões fazendo lobby, com o qual corporações inflam sua influência sobre políticos, por meio de doações a campanhas, em vez de usar o dinheiro para criar um serviço com segurança e qualidade. Se contarmos os políticos como funcionários, na realidade as empresas os pagam muito bem!
Enquanto ouvíamos atualizações diárias inúteis sobre o balão espião chinês –"última notícia: não sabemos b... nenhuma!"–, temos pouca cobertura da grande imprensa sobre o desastre ferroviário.
Um repórter da News Nation chegou a ser atacado e preso por "conduta desordeira" quando cobria a notícia. Pensei que esses canalhas avarentos gostariam de uma imprensa livre porque ela inclui a palavra "livre" [que também significa gratuito em inglês].
A Norfolk Southern faltou a uma reunião pública em que seriam respondidas perguntas dos cidadãos quanto à segurança física. Alegou receios por sua própria segurança, o que já constitui uma resposta bastante clara. Se você mandar um SMS a uma garota convidando-a para um segundo encontro e ela não responder, já sabe de duas coisas: ela te acha tóxico e pode ser que trabalhe para a Norfolk Southern.
O descaso irrestrito das empresas ferroviárias e do nosso governo com as vidas afetadas por essa tragédia evitável me deixou uma sensação de raiva e impotência, até eu fazer algo que mudou minha visão completamente: comprei ações das ferroviárias.
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