—Oi, eu vim fazer um boletim de ocorrência.
—Já te falaram que você
parece o John Lennon?
—Hã? Ah. Os óculos lembram um pouco.
—O que aconteceu?
—Roubaram meu computador num ônibus leito, vindo de Vitória pra cá.
—É, a violência não tá fácil não, John Lennon! Ninguém tem medo da polícia mais!
—É… Ninguém respeita mais nada… Eu acho.
—Respeito você tem todo direito como cidadão! Todo direito!! Quem te falou que você não tem direito a respeito? Tem sim!
—Não foi isso que eu quis
dizer, eu só tava tentando
participar do tema...
—A culpa é da imprensa que fica noticiando crimes.
—Bom, eu não espero que vocês saiam numa caçada televisionada em busca do co—
—Tem que dormir abraçado no computador nesses ônibus.
—Hã?
—Você. Deveria ter dormido abraçado ao computador. Profissão?
—Ator, roteirista.
—Você faz teatro?
—Não.
—Stand-up?
—Não. Isso tá no formulário?
—Então o que você faz?
—Várias coisas. Na interne—
—Me amarro em internet. Um dia você vai ter seu
próprio canal, se Deus quiser.
—Mas eu tenho.
—Ah é? Como chama?
—TV Quase.
—Desconheço. É tipo Porta dos Fundos?
—Mais ou menos. Mas é
comédia também.
—É, estamos precisando muito sorrir! Muito!!
—Quem tá precisando sorrir?
—Todo mundo. Meu filho, por exemplo. Precisa sorrir. Ele queria ter um canal de internet igual ao Kibe. Sabia que ele chegou a ter um
programa na televisão?
—Seu filho?
—O Kibe.
—Eu sei, eu fiz o programa dele na TV.
—É? Nem te reconheci!
Vocês mudam muito!
—Quem muda muito?
—Ator! Mas meu filho se perdeu no mundo do direito…
virou militante do… Como é que chama? Do PSOL. Luta pela legalização da maconha. Hahaha, é mole? Cheio de ideal, muito maneiro... Muito
maneiro. Tá aqui seu Boletim de Ocorrência.
—Obrigado.
—E faça-nos sorrir! Faça-nos sorrir sempre, John Lennon!! Precisamos muito disso!!
—Tá.
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